Roberto Sbragia y Rodrigo Boscolo
Nesta seção discute-se a forma de condução do estudo, bem como as delimitações que o tornaram exeqüível, ainda que com restrições importantes.
Apesar de conceitualmente coerente, o modelo de Inovação de Valor corre o risco de ser taxado como mais um modismo de gestão, que logo será esquecido, a não ser que pesquisas empíricas sejam realizadas e corroborem sua eficácia duradoura. Da mesma forma, a despeito do ciclo virtuoso envolvendo capacidade de inovação e desempenho das empresas ser amplamente sugerido na literatura, são raros os estudos empíricos conclusivos a este respeito. Dada a abrangência e complexidade do tema e a inexistência de estudos amplos, faz-se necessário que se busque conhecimentos que possam sustentar a formulação de novas hipóteses futuras e que possibilitem melhores explicações para o fenômeno. Neste sentido, pode-se classificar a pesquisa em questão como exploratória, segundo a classificação de Selltiz et al. (1959).
Para classificar o grupo de empresas da amostra segundo as tipologias de estudo, optou-se por um survey via Internet (e-survey). O uso da Internet como via de acesso para o questionário se deveu principalmente às vantagens propiciadas pela rapidez e automatização das etapas de envio e tabulação dos dados, além da praticidade por parte dos respondentes. Apesar disso, tais vantagens foram contrapostas por uma série de desvantagens, como taxas de respostas mais baixas do que nos meios tradicionais, maior preocupação com o layout e elaboração do banco de dados e certa dificuldade em relação à assertividade dos e-mails das pessoas na amostra (Vasconcellos e Guedes, 2007).
Para composição de uma amostra que se mostrasse minimamente satisfatória para a natureza deste estudo, foram consideradas duas associações empresariais situadas em São Paulo, Brasil. A primeira associação reúne empresas dedicadas a discussões sobre inovação, pesquisa e desenvolvimento, a ANPEI- Associação Nacional de P&D das Empresas Inovadoras, fundada em 1984. O acesso aos seus membros possibilitou com que e-mails fossem enviados aos executivos das empresas associadas. A segunda associação se trata da Câmara de Comércio França-Brasil, uma organização cinqüentenária que reúne empresas interessadas nas relações comerciais entre empresas dos dois países. O acesso às empresas ocorreu por meio da lista de e-mails dos membros, disponível no anuário da câmara.
Ambas as associações eram compostas por empresas de diversos setores e de diferentes tamanhos e períodos de existência, resultando num total de 595 convites para participação no estudo. A amostragem, portanto, pode ser considerada intencional e constituída na forma de painel de respondentes, típica de estudos exploratórios e onde se utiliza o e-survey como instrumento de coleta de dados.
O Quadro I apresenta, de forma sintética, as variáveis utilizadas neste estudo segundo o conceito envolvido e suas dimensões. Cada uma dessas variáveis será explicada com maiores detalhes a seguir:
Quadro I – Conceitos, Dimensões e Variáveis
Conceito | Dimensão | Variáveis do Questionário (número da questão) |
Inovação de Valor | Cultura organizacional | Cultura inovadora (1); soluções globais (2); cultura da divergência (3); cultura do desafio (4) |
Foco nos consumidores | Base de clientes (5) | |
Escopo da oferta de produtos e serviços | Fronteiras da organização (6); abrangência de escopo (7) | |
Estrutura organizacional | Autonomia e diversidade (8); aprendizado organizacional (9) | |
Proposta de valor | Desafio ao status quo (10); abordagem competitiva (11); valor da oferta (12); poder de transformação (13) | |
Inovação de Valor | Propensão à Inovação de Valor (variável agregada dos 13 constructos acima) | |
Desempenho | Rentabilidade | Média do ROE Anual |
Valor | Média da Variação Anual do Valor de Mercado | |
Domínio de Mercado | Média da Evolução Anual de Market Share |
Fonte: Elaborado pelo autor
Para mensurar a Inovação de Valor, desenvolveu-se um questionário que procurou captar as ênfases dadas a essa abordagem pelos executivos das organizações, tendo como base os principais conceitos que a sustentam. A escolha do questionário como ferramenta de pesquisa baseou-se em algumas vantagens, já reconhecidas em estudos de similar natureza (Snow e Hrebiniak, 1980), a principal delas residindo na possibilidade de acesso direto a altos executivos, o que poderia propiciar o melhor ponto de observação quanto ao modelo estratégico adotado por suas empresas. Também, dado que esses altos executivos determinam em grande medida quais as escolhas feitas pelas organizações, espera-se que suas percepções acerca da estratégia das empresas tenham grande influência sobre o desempenho das mesmas.
Com base em adaptações dos trabalhos de Segev (1989) e Blumentritt e Danis (2006), utilizou-se principalmente a escala de diferencial semântico para medir a orientação estratégica das firmas da amostra, segundo as tipologias definidas previamente. O uso desta escala permitiu contrapor aspectos de diferenciação das duas tipologias. Os itens do questionário foram encontrados em diversas fontes que tratam do tema Inovação de Valor, principalmente em Kim e Mauborgne (1997, 1999 e 2004), Cohen e Levinthal (1990), Malone et al, (2006), Hatchuel e Weill (2003), Dillon et al.(2005), Neely e Hii, (1998) e Snow e Hrebiniak (1980). Assim, cada item do questionário reflete uma dimensão de importante distinção entre empresas Inovadoras de Valor e Convencionais, como se pode notar pelo
Quadro II: Quadro II: Modelo da Estrutura Central do Questionário
1- A cultura da empresa valoriza que as pessoas sigam as melhores práticas e que se concentrem em executar suas atividades da melhor maneira possível dentro da forma estabelecida. | 1 2 3 4 5 6 7 | A cultura da empresa encoraja que as pessoas tentem novas idéias e a diversidade de pensamento é valorizada. As pessoas são incentivadas para que sejam abertas às mudanças. |
2- As pessoas buscam excelência em suas atividades, mas restringem-se às designações de seus cargos. Cada área faz o melhor que pode e oferece suas soluções individuais. | 1 2 3 4 5 6 7 | As pessoas sabem que seu trabalho influencia o que acontece com a organização e que o que fazem cria impactos nos consumidores. Somos encorajados a pensar em termos de soluções globais que agreguem valor para os consumidores. |
3- As decisões dos superiores prevalecem caso haja alguma discordância e espera-se que as pessoas hajam sempre de forma coerente, aceitando tal decisão. | 1 2 3 4 5 6 7 | As pessoas são incentivadas a se expressarem caso discordem das decisões dos outros. A independência individual é respeitada pela organização. |
4- As pessoas focam em suas atividades e não questionam os processos. A responsabilidade de cada um se limita aos problemas que dizem respeito a sua atividade. | 1 2 3 4 5 6 7 | As pessoas na organização se sentem livres para desafiar o status quo e são encorajadas a abordar problemas de trabalho. |
5- A empresa enfatiza o melhor atendimento de seu grupo de consumidores e busca reter e expandir sua base de clientes através de segmentações e customizações adicionais. A organização está atenta para as diferenças de percepção sobre o que os consumidores valorizam. | 1 2 3 4 5 6 7 | A empresa redefine constantemente seu grupo de consumidores, incluindo aqueles potencialmente servidos por outros setores. A organização busca a massa de compradores, focando nos pontos de convergência sobre o que os consumidores valorizam e propositalmente deixando de atender alguns deles. |
6- A empresa procura alavancar seus ativos e suas capacidades, mobilizando da melhor forma que pode o que possui. | 1 2 3 4 5 6 7 | A empresa não se limita por aquilo que ela já possui. Pergunta-se constantemente: O que faríamos se estivéssemos começando novamente? |
7- Os limites tradicionais do setor determinam a oferta de produtos e serviços da empresa. O objetivo é maximizar o valor dessas ofertas | 1 2 3 4 5 6 7 | A empresa pensa em termos de soluções completas para seus consumidores, mesmo que isso a leve além de sua tradicional oferta de produtos e serviços. |
8- A organização da empresa é feita com base em pequenas unidades autônomas, mas focadas em um objetivo de negócio comum. Os times são formados com pessoas de backgrounds completamente diversos. | 1 2 3 4 5 6 7 | A organização da empresa é feita com base em funções, regiões ou tipos de canal. Os times são homogêneos. |
9- Nossos produtos e serviços tem processos de desenvolvimento distintos e independentes. Assim, a experiência adquirida ao longo do desenvolvimento se restringe ao grupo responsável. | 1 2 3 4 5 6 7 | Quando redesenhamos produtos e serviços, nós maximizamos aquilo que nossas pessoas aprenderam em suas experiências de trabalho. |
10- As condições da indústria são dadas a partir da análise setorial e a empresa mantém o foco nos rivais do setor. | 1 2 3 4 5 6 7 | As condições da indústria podem ser desafiadas e alteradas e a empresa avalia outras empresas através de setores alternativos. |
11- A empresa desenvolve uma posição estratégica dentro de seu grupo estratégico e busca a formação de uma vantagem competitiva que a permita bater a competição. | 1 2 3 4 5 6 7 | A competição não é um benchmark. A empresa olha através de diferentes grupos estratégicos no setor, sem se encaixar em nenhum deles e seus gestores são comprometidos em perseguir um salto de valor que a permita dominar o mercado. |
12- A empresa foca em melhorar o desempenho de seu preço dentro da orientação funcional e emocional definida pelo setor. | 1 2 3 4 5 6 7 | A empresa repensa e muda a concepção da orientação emocional e funcional da indústria, redefinindo a utilidade de sua oferta. |
13- A empresa busca a adaptação às tendências externas assim que elas ocorrem. | 1 2 3 4 5 6 7 | A empresa participa ativamente na modelação das tendências ao longo do tempo. Conceitualmente, tipologias puras de empresas |
Convencionais e de empresas Inovadoras de Valor deveriam ser identificadas nos extremos do continuum de cada item analisado. O questionário foi desenhado de modo que altas pontuações designassem empresas Inovadoras de Valor e baixas pontuações indicassem empresas Convencionais. Evidentemente, reconhece-se que são raros os exemplos de empresas com orientações estratégicas puras, segundo o modelo conceitual. As 13 características avaliadas por meio do questionário foram consideradas variáveis independentes para efeito do estudo.
Além delas, criou-se uma variável transformada a partir da pontuação total obtida no questionário. Denominada “Propensão à Inovação de Valor”, esta variável determinou a tipologia predominante da empresa respondente. Dessa forma, a partir da variável transformada, criou-se também dois grupos de empresas (Inovadoras de Valor e Convencionais) com base em pontuações altas e baixas, utilizando a pontuação média teórica da distribuição como critério de separação dos grupos.
Os questionários foram auto-preenchidos pelos executivos de alto escalão representando as empresas da amostra, a partir de instruções disponíveis nos próprios questionários, que exibiam um formato estruturado (perguntas fechadas) e não disfarçado, sendo apresentados em uma página de Internet. Dentre as possíveis limitações do questionário, pode-se apontar o fato de que este proporcionava informações apenas sobre as dimensões explicitamente especificadas, não permitindo uma análise comportamental mais profunda. Além disso, existiu certamente o risco de que executivos super-avaliassem suas empresas, considerando que conheciam práticas mais adequadas, independentemente destas estarem ocorrendo nas organizações por eles representadas
Das 595 empresas convidadas para na participação na pesquisa resultaram 52 questionários preenchidos considerados válidos (uma taxa de resposta de 8,7%) para a variável Inovação de Valor. Apesar de baixa, a taxa de resposta pode ser considerada dentro do intervalo esperado, dado o método utilizado, conforme observaram Hipólito et al (1996) apud Vasconcellos e Guedes (2007). Além disso, o número de resposta se mostrou satisfatório para análises exploratórias.
A fim de estabelecer comparações de desempenho entre as empresas, entendida neste estudo como a variável dependente, optou-se pelo uso do anuário Melhores e Maiores, produzido pela revista de negócios Exame, para a obtenção dos dados secundários utilizados neste estudo. A partir do balanço consolidado das 500 maiores empresas em operação no país, tentou-se obter os dados financeiros e de mercado das 52 empresas que responderam o questionário sobre Inovação de Valor. Porém, verificou-se que apenas 34 delas disponibilizavam publicamente suas informações financeiras. Dessa forma, para o cálculo das variáveis de desempenho, foram consideradas apenas as 34 empresas cujos dados financeiros e de mercado foram obtidos. Informações de mercado disponíveis na base de dados Economática também foram utilizadas para complementar eventuais lacunas de dados. Determinou-se o horizonte de quatro anos (2003-2006) para a análise de desempenho. Além de consistente com pesquisas anteriores, que geralmente abrangem intervalos de três a cinco anos, a escolha deste intervalo se deveu também à necessidade de manter a coerência da classificação setorial proposta pelo anuário tomado por base.
As 34 empresas da amostra foram então analisadas por meio de três variáveis de desempenho. As denominações de cada variável, bem como suas principais características conceituais e de cálculo são apresentadas a seguir:
Tendo como amostra final, portanto, as 34 empresas (5,7% do painel de 595 empresas inicialmente constituído), para efeito de análise optou-se por testes estatísticos que possibilitassem inferir conclusões iniciais a respeito do questionamento central deste estudo. Assim, primeiramente, definiu-se a hipótese central de nulidade da seguinte forma:
H0: O desempenho médio de empresas Inovadoras de Valor (µI) é igual ao desempenho médio de empresas Convencionais (µC).
Para contrapô-la, utilizou-se a principal hipótese de trabalho (H1) subdividida em três outras hipóteses, com base em cada uma das três dimensões de desempenho analisadas:
H1a: Empresas Inovadoras de Valor apresentam Média do ROE Anual (µIa) superior ao de empresas Convencionais (µCa), que baseiam sua orientação estratégica em modelos tradicionais de estratégia.
H1b: Empresas Inovadoras de Valor apresentam Média da Variação Anual do Valor de Mercado (µIb) superior ao de empresas Convencionais (µCb), que baseiam sua orientação estratégica em modelos tradicionais de estratégia.
H1c: Empresas Inovadoras de Valor apresentam Média da Evolução Anual de Market share (µIc) superior ao de empresas Convencionais (µCc), que baseiam sua orientação estratégica em modelos tradicionais de estratégia.
Para que as hipóteses pudessem ser postas à prova, as hipóteses nulas dos testes foram postas à prova segundo duas faixas de nível de significância: se o valor do teste apresentasse p menor ou igual a α= 0,05, H0 seria rejeitada; caso o valor encontrado apresentasse p3 maior do que 0,05 e menor ou igual a 0,10, H0 seria rejeitada com ressalvas4; caso o valor apresentado denotasse p maior do que 0,10, a hipótese H0 não poderia ser rejeitada. Neste sentido, a rejeição da hipótese nula implicaria no suporte de nossa hipótese de trabalho (H1), de modo que a relação geral entre elas se estabelece da seguinte maneira:
H0: µI = µC
H1: µi > µc
Ao ponderar a respeito dos testes mais adequados, levou-se em conta os critérios propostos por Siegel (1975): poder de análise, maneira como a amostra de valores foi extraída, natureza da população da qual se extraiu a amostra e tipo de mensuração empregado na definição operacional das variáveis de trabalho. Nestes aspectos, as mensurações de nossas variáveis se restringiram às escalas nominal (dados demográficos), ordinal (tipologias e classes de desempenho) e intervalar (propensão à Inovação de Valor). Além disso, a distribuição da população de estudo era desconhecida e a amostra apresentava um número pequeno de elementos.
Em função dos aspectos supracitados, optou-se pelos testes não paramétricos. Segundo Siegel (1975), as análises não paramétricas apresentam uma série de vantagens, que correspondem particularmente às necessidades deste estudo. Além de permitirem que não sejam feitas suposições a respeito da distribuição e da variância da população da qual tenham sido extraídos os dados da análise, as técnicas não paramétricas são facilmente aplicáveis a pequenas amostras. Os testes escolhidos têm sua justificação e aplicação apresentada nas seções adiante.
Das 595 empresas convidadas para na participação na pesquisa, resultaram 52 questionários preenchidos válidos (uma taxa de resposta de 8,7%) para a variável Inovação de Valor. Apesar de baixa, a taxa de resposta pode ser considerada dentro do intervalo esperado, dado o método utilizado, conforme observaram Hipólito et al (1996) apud Vasconcellos e Guedes (2007). Além disso, o número de resposta se mostrou satisfatório para análises exploratórias.
Nesta seção são discutidos os resultados das análises desenvolvidas, assim como os principais aspectos que suportam a hipótese de trabalho.
Do total de 52 respondentes, cerca de 40% ocupavam cargos5 de alta hierarquia nas empresas, e mais de 70% desempenhavam papéis gerenciais em suas organizações. Tal aspecto é importante na medida em que atribui maior relevância à percepção desses profissionais quanto às características das organizações avaliadas. O envolvimento dos respondentes com a estratégia de suas empresas também reforçou a representatividade das respostas. De fato, quase 60% dos profissionais declararam estar altamente envolvidos no direcionamento estratégico de suas organizações. Ademais, a maior parte dos respondentes (55%) trabalhava na organização há pelo menos quatro anos, fato que lhes garante uma perspectiva histórica da evolução da empresa.
No que diz respeito às empresas que compõem a amostra, apesar da predominância de empresas de grande porte, em virtude da disponibilidade dos dados financeiros, pôde-se notar que uma ampla variedade de setores foi contemplada. Houve ao menos uma empresa representante para quinze diferentes setores, dentre os quais se destacaram a indústria farmacêutica e o setor de bens de consumo.
O controle acionário das empresas da amostra também se mostrou diversificado e apresentou grupos de onze diferentes países, com destaque para as organizações brasileiras e americanas, representando, respectivamente, 44,6% e 17,9% do total da amostra. Naturalmente, trata-se de uma clara indicação da integração competitiva global.
Ao iniciar os testes de hipótese, primeiramente fez-se uso de tabelas cruzadas de contingência, com o intuito de investigar a existência de associações a partir da distribuição conjunta das variáveis. A escolha do método ocorreu devido à possibilidade de comparar as variáveis em mensurações dicotômicas, além do número limitado de elementos na amostra. Desse modo, classificou-se as empresas da amostra segundo dois grupos para cada variável desempenho: Alto Desempenho e Baixo Desempenho.
O critério para esta classificação se baseou nas médias setoriais6, ou seja, empresas que superaram a média de seus setores em cada uma das variáveis escolhidas para efeito deste estudo foram classificadas no grupo de Alto Desempenho, ao passo que empresas abaixo da média foram consideradas de Baixo Desempenho7.
Com base nesses critérios, as tabelas cruzadas de contingência (2x2) utilizadas preliminarmente para a análise dos dados sugeriram diferenças importantes na distribuição dos dois grupos (Convencionais e Inovadoras de Valor) para as três variáveis de desempenho (rentabilidade, valor e domínio de mercado). Tendo em vista os resultados encorajadores de tais constatações, buscou-se aprofundar a análise por meio de testes de maior poder estatístico8. Dessa forma, a fim de comparar as tendências centrais das duas amostras independentes (tipologias versus variável de desempenho) foram feitos testes U de Mann-Whitney para cada uma das variáveis dependentes. Sua escolha deveu-se ao fato de se constituir uma alternativa ao teste t paramétrico, bem como em função da utilização de amostras pequenas e de mensurações em escala ordinal9. A hipótese nula (H0) do teste pressupõe variâncias iguais para os dois grupos. Ademais, neste caso, a comparação é feita entre as posições (ranks) dos elementos da amostra e não de seus grupos de desempenho, como nas análises anteriores. Os resultados são apresentados na Tabela I:
Tabela I – Estatísticas do Teste U de Mann-Whitney (n=34)
Média da Variação Anual do Valor de Mercado | Média do ROE Anual | Média da Evolução Anual de Market Share | |
Mann-Whitney U | 8,000 | 15,000 | 17,000 |
Z | -2,315 | -2,021 | -1,575 |
Assymp. Sig. ( two-tailed) | 0,021 | 0,043 | 0,115 |
Exact Sig. [2*(1-tailed Sig.)] | 0,021 | 0,046 | 0,130 |
Fonte: Elaborado pelo autor
Dentre as variáveis dependentes, as diferenças entre as duas tipologias se mostraram significantes para as variáveis Média da Variação Anual do Valor de Mercado (p = 0,021) e Média do ROE Anual (p10= 0,046), levando-se a concluir que as empresas da amostra classificadas como Inovadoras de Valor têm desempenho superior às empresas classificadas como Convencionais segundo estes dois critérios. Além disso, pôde-se notar que para a variável Média da Variação Anual de Market Share (p = 0,130), houve uma clara aproximação do nível de significância que rejeita a hipótese nula com ressalvas (α=,010). Dado que o número de elementos da amostra é consideravelmente pequeno para esta variável (N=16), é importante que sejam feitos novos testes, com um número maior de observações, antes de considerarmos válida a hipótese nula.
Nesta seção, os testes se concentraram na verificação do grau em que cada uma das variáveis utilizadas para avaliar a ênfase dada à Inovação de Valor discriminavam entre as empresas de Baixo e Alto Desempenho segundo cada um dos critérios utilizados. Neste caso específico, a classificação das empresas da amostra em grupos de Alto e Baixo Desempenho foi tomada como variável independente e foram feitos testes U de Mann-Whitney para cada variável.
No que tange ao desempenho segundo a Média da Variação Anual do Valor de Mercado, a distribuição das médias ocorreu conforme apresentado no Gráfico 1. Para esta variável de desempenho, foram encontradas quatro diferenças significantes (duas com ressalvas) entre as variáveis nos diferentes grupos de desempenho. A variável Autonomia e Diversidade (8) (p = 0,021) apontou que empresas do grupo de Alto Desempenho tinham estruturas organizacionais centradas em grupos heterogêneos e autônomos, direcionadas por meio de objetivos de negócio comuns. A variável Aprendizado Organizacional (9) (p = 0,094) que também tratava da estrutura organizacional, mostrou que empresas classificadas como de Alto Desempenho mantinham processos compartilhados entre seus produtos e serviços, e apresentavam mecanismos de gestão do conhecimento.
A variável Fronteiras da organização (6) indicou a existência de uma relação significante (p = 0,094) - para rejeição de H0 com ressalvas - entre desempenho e a forma como empresas lidam com suas capacidades para ampliar o escopo de oferta de seus serviços e produtos. Neste caso, empresas de Alto Desempenho tendem a se redesenhar constantemente, caso isso seja necessário para uma redefinição de suas ofertas e mercado de atuação.
A variável Valor da oferta (12) (p = 0,029) tratava da proposta de valor das empresas e mostrou que empresas de Alto Desempenho não limitavam sua oferta aos benefícios funcionais e emocionais definidos pelo setor como válidos. Ao contrário, essas empresas redefinem o valor de suas ofertas segundo critérios próprios. Interessante notar que, para esta variável de desempenho, as diferenças entre os grupos não foi significante (p = 0,121). Uma possível explicação se deve a maior importância relativa de aspectos setoriais no que toca o valor de mercado das empresas. Cabe observar que, para as variáveis onde as pontuações das empresas de baixo desempenho superaram aquelas das de alto desempenho, Base de Clientes (5) e Poder de transformação (13), tais relações não foram consideradas significantes.
Gráfico 1- Pontuações Médias das Empresas Segundo Grupos de Desempenho para Média da Variação Anual do Valor de Mercado
Fonte: Elaborado pelo autor
Quando o desempenho foi medido com base na variável Média do ROE Anual (conforme apresentado no Gráfico 2), apenas duas variáveis apresentaram diferenças significantes em função dos grupos de desempenho. Assim, a variável Valor da oferta (12) (p = 0,093) novamente relacionou positivamente Alto Desempenho e empresas cujas propostas de valor não se limitam a parâmetros como o preço de mercado. A variável Cultura do desafio (4) apontou para uma relação significante (p = 0,046) entre empresas dotadas de culturas organizacionais de questionamento amplo e aberto e aquelas de Alto Desempenho.. Finalmente cabe observar também que, no caso da variável 1 (Cultura Inovadora), onde a pontuação obtida pelo grupo de Baixo Desempenho foi superior à obtida pelo de Alto Desempenho, a diferença observada não foi significativa.
Gráfico 2- Pontuações Médias das Empresas Segundo Grupos de Desempenho para Média do ROE Anual
Fonte: Elaborado pelo autor
Para a variável Média da Evolução Anual de Market Share, foram identificadas quatro relações significantes. O gráfico 3 apresenta os resultados destaanálise. Assim, as variáveis Abordagem competitiva (p = 0,000) e Poder de transformação (p = 0,031) destacaram novamente a importância da dimensão Proposta de valor ao diferenciar grupos de desempenho distintos. Os respondentes das empresas do grupo de Alto Desempenho apontaram que suas organizações não se encaixam em grupos estratégicos pré-definidos como, por exemplo, diferenciadores ou líderes em custo. Além disso, classificaram suas empresas como proativas no direcionamento das tendências do mercado. O teste também indicou uma relação entre empresas de Alto Desempenho e aquelas que valorizam novas idéias, diversidade de pensamento e a mudança em suas culturas organizacionais (variável Cultura inovadora (p = 0,073).
Gráfico 3 - Pontuações Médias das Empresas Segundo Grupos de Desempenho para Média da Evolução Anual de Market Share
Fonte: Elaborado pelo autor
Por fim, os grupos de desempenho segundo esta variável foram os que apresentaram as diferenças mais significantes (p = 0,022) quanto à pontuação de Propensão à Inovação de Valor das empresas. Efetivamente, como podemos observar no gráfico acima, as pontuações médias tiveram diferenças claras para os dois grupos de desempenho. O grupo de Alto desempenho também apresentou grande variância nas médias entre as questões, possivelmente em função do número pequeno (N = 6) de empresas classificadas no grupo.
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Vol. 32 (1) 2011
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