Espacios. Vol. 32 (3) 2011. Pág. 14


Redes de inovação para o desenvolvimento de um novo software de programação da produção

Redes de Innovación para desarrollar un nuevo software para la programación de la producción

Innovation Networks to develop new software for production planning

Rogério Cerávolo Calia y Gilnei Luiz de Moura


3 Metodologia de Pesquisa

De acordo com os conceitos identificados na revisão bibliográfica deste trabalho, foi estabelecida uma estrutura analítica para a pesquisa conforme a Figura 1.

 Figura 1 Estrutura Analítica da Pesquisa

Fonte: Pesquisa Direta. (2005)

A pesquisa analisou o processo de desenvolvimento do software de programação da produção com algoritmos de Teoria das Restrições que ocorreu no contexto organizacional de parcerias da empresa criadora do software (Linter Sistemas) com uma organização especialista nos algoritmos de Teoria das Restrições (Instituto Goldratt) e com uma manufatura (a Empresa Metalúrgica) que serviu como teste deste novo software.

Para isso foi observada a relação entre a eficácia do software (para diminuir atrasos, estoques e lead time da manufatura usuária) e as variáveis independentes do desenvolvimento do software:

  1. A estrutura de relacionamento nas redes organizacionais entre as empresas que participaram do desenvolvimento do software;
  2. A gestão de conhecimento utilizada no desenvolvimento;
  3. E a dinâmica da rede de inovação.

Para conduzir esta estrutura analítica, optou-se pela metodologia de estudo de caso (Yin, 2005). Uma vez que a pesquisa visou identificar o funcionamento da rede de inovação que desenvolveu um novo software, fez-se necessário entender como e por que a estrutura e a dinâmica da rede de inovação geraram funcionalidades computacionais eficazes. Portanto, para avaliar o modo de operação da rede de inovação para o desenvolvimento do software, tornou-se necessário conduzir uma pesquisa explanatória.

O estudo de caso é a metodologia adequada para analisar condições contextuais, caso sejam pertinentes ao fenômeno em estudo (Yin, 2005). O fenômeno estudado foi o desenvolvimento de um software de programação da produção. Como esse produto só faz sentido ser analisado no contexto da manufatura usuária, a metodologia de estudo de caso proporcionou que se investigassem as circunstâncias organizacionais que favoreceram a inovação.

3.1 Protocolo do Estudo de Caso

O protocolo de estudo de caso deve definir a questão da pesquisa, a hipótese sendo validada, as fontes de informação e as questões para serem respondidas pela pesquisa. Note-se que as questões levantadas no protocolo de estudo de caso não são direcionadas às pessoas entrevistadas pelo pesquisador, mas são questões direcionadas ao próprio pesquisador, para guiá-lo de modo a obter o conjunto de evidências necessárias e suficientes para se responder às questões do protocolo (Yin, 2005).

Deste modo, o protocolo do estudo de caso visa analisar a criação do software de programação da produção com algoritmos da Teoria das Restrições durante a sua primeira implementação na Empresa Metalúrgica. Para isso, foram entrevistados:

  1. O sócio empreendedor da Linter Sistemas que liderou o desenvolvimento do software;
  2. O principal executivo da Empresa Metalúrgica que participou do desenvolvimento final do Drummer e liderou a primeira implementação do mesmo;
  3. Os consultores de Teoria das Restrições do Instituto Goldratt envolvidos no desenvolvimento do Drummer.

Além das entrevistas, também foram utilizados dados de séries temporais para avaliar a eficácia do Drummer na Empresa Metalúrgica (dados de atendimento de pedidos no prazo, giro de inventário, material em processo, horas-extras e tempo de produção).

O Protocolo de Pesquisa do Estudo de Caso a seguir define que se realizou uma pesquisa explanatória voltada ao desenvolvimento do software com algoritmos de Teoria das Restrições (unidade de análise). Mais especificamente, o Estudo de Caso visou validar a hipótese de que o desenvolvimento do software requereu apenas conhecimentos explícitos de uma estrutura de redes organizacionais aberta e com relacionamentos indiretos para o desenvolvimento de um software eficaz, apto a diminuir atrasos e reduzir estoques na manufatura.

O estudo de caso foi realizado na Empresa Metalúrgica, onde ocorreu o desenvolvimento final e a primeira implementação do Drummer ocorrida entre os anos 1998 e 2000. Durante o estudo de caso, foram analisados o histórico do desenvolvimento do software, as contribuições das organizações envolvidas, as estruturas de relacionamento e a evolução das bases de conhecimento.

Para estabelecer as relações causais entre a estrutura de relacionamento e a transmissão de conhecimento, foi utilizado o modelo de Ahuja (2000). Já a causalidade entre a dinâmica de rede e a inovação se baseou no modelo de Pyka, Gilbert e Ahrweiler (2002).

4 Estudo de Caso

4.1 Histórico do Desenvolvimento do Software

Os Empreendedores e a Empresa - A Linter Sistemas é uma empresa criada por dois sócios (o sócio empreendedor e o sócio programador de sistemas), que surgiu em 1988 e obteve o nome atual em 1997. Antes de fundar seu negócio próprio, o sócio empreendedor trabalhou em uma manufatura por cinco anos no departamento de Tecnologia da Informação e na implementação de ERP (Enterprise Resource Planning).

O Produto – o Drummer é um software desenvolvido pela Linter Sistemas. Foi o primeiro software de programação e controle da produção no Brasil a utilizar os algoritmos da Teoria das Restrições. Esse software é responsável atualmente por 70% do faturamento da Linter Sistemas e está implementado em 28 clientes.

A Idéia do Software - Em 1986, quando ainda trabalhava em uma empresa fabricante de elevadores, o sócio empreendedor participou de uma apresentação sobre o OPT (Optimized Production Technology) de Eliyahu Goldratt. Depois disso, criou a sua própria empresa, na qual o principal produto era um ERP (Enterprise Resource Planning).

No entanto, ao longo dos anos seguintes, os sócios sentiram que o ERP era um produto que estava se tornando uma commodity. Além disso, não estavam satisfeitos com o desempenho no “chão de fábrica” do programa de produção do MRP (Material Resource Planning) integrado ao ERP, pois essa metodologia pressupõe capacidade de produção infinita. Por esse motivo, procuravam um novo produto para a sua empresa e uma nova base de diferenciação para o seu negócio.

Em 1993, o sócio empreendedor teve a primeira idéia para o produto ao ler e resumir o livro “A Síndrome do Palheiro: procurando informação de um oceano de dados” de autoria do Eliyahu Goldratt (1991). O livro forneceu um roteiro para o desenvolvimento de um software de programação da produção mesmo para manufaturas com capacidade de produção finita. Segundo o sócio empreendedor, esse resumo consistiu a “gênesis” do Drummer. No entanto, a idéia permaneceu intocada por mais dois anos.

Em 1995, o sócio empreendedor procurava validar se realmente a Teoria das Restrições tinha perspectiva de futuro, ou seja, queria estimar o risco de desenvolver um produto baseado nos algoritmos da Teoria das Restrições para a programação e controle da produção. Por esse motivo, procurou informações sobre a Teoria das Restrições na internet, encontrou a página eletrônica do Instituto Goldratt e entrou em contato com um consultor associado do instituto. Este se interessou pela idéia de um software brasileiro de Teoria das Restrições, porque os softwares disponíveis naquela época eram importados e de preço excessivamente elevado para considerável parte do mercado potencial brasileiro.

O consultor de Teoria das Restrições acreditava que um software mais barato poderia superar um dos principais obstáculos para a disseminação da Teoria das Restrições no Brasil. Dessa forma, o visitou o escritório da Linter Sistemas, onde o sócio empreendedor apresentou o resumo do livro “A Síndrome do Palheiro” e exibiu um protótipo simples de um software para a programação de uma operação com restrição de capacidade na manufatura. O consultor, então, descreveu tanto as suas experiências com os softwares importados de Teoria das Restrições, quanto as suas implementações práticas da metodologia nos seus clientes, mostrando indicações sobre funcionalidades específicas como, por exemplo, recomendações para automatizar os agrupamentos de pedidos para a redução de tempo de preparação de máquina no recurso com restrição de capacidade.

O sócio empreendedor da Linter Sistemas também reforçou que esse consultor associado do Instituto Goldratt foi a primeira pessoa a encorajar os empreendedores a dar continuidade ao desenvolvimento do primeiro software brasileiro de Teoria das Restrições.

O Teste das Funcionalidades - Para o desenvolvimento do Drummer, o ano mais importante foi 1998, por causa da primeira implementação em cliente, uma empresa metalúrgica que produzia acessórios para a indústria automobilística e equipamentos para filtragem de água.

Esse primeiro cliente entrou em contato com a Linter Sistemas, por meio de uma propaganda da mesma veiculada em uma revista de uma instituição de treinamentos e edições sobre manufatura. A Linter Sistemas não cobrou a Empresa Metalúrgica pelo Drummer, pois se tratava da implementação piloto para testar as funcionalidades do novo produto.

A atual configuração do Drummer foi obtida depois de implementações em cerca de doze clientes até o ano 2000.

4.2 Papéis e Atributos dos Agentes

A seguir, são apresentados os agentes que participaram do desenvolvimento do Drummer, assim como as suas respectivas contribuições e características.

Linter Sistemas - O sócio empreendedor elaborou a definição conceitual do Drummer e selecionou as funcionalidades que agregam valor ao usuário. Por outro lado, o sócio técnico liderou o desenvolvimento que transformou estes conceitos e idéias em programas funcionais.

Instituto Goldratt - O Instituto Goldratt participou do desenvolvimento do Drummer de 1995 a 2000. Eliyahu Goldratt (1991) descreveu a estrutura de um sistema de informação para a programação e controle de produção em seu livro a “A Síndrome do Palheiro”.

O consultor associado enriqueceu o desenvolvimento do Drummer com o seu conhecimento prático de Teoria das Restrições e também deu idéias práticas para funcionalidades específicas, além de motivar os empreendedores a dar continuidade no desenvolvimento do primeiro protótipo para concluir o Drummer.

O Instituto Goldratt se interessou em oferecer aos seus clientes a opção de automatizar a operação dos algoritmos da Teoria das Restrições para a programação e controle da produção. Com isso, o Drummer proporcionou um beneficio adicional de manter a mudança na cultura organizacional necessária durante a implementação da metodologia da Teoria das Restrições.

Após o desenvolvimento do Drummer, o Instituto Goldratt apoiou a sua comercialização, ao ajudar a Linter Sistemas a fechar contratos com grandes clientes.

Empresa Metalúrgica - A primeira organização a implementar o Drummer participou do desenvolvimento do mesmo de 1997 a 1999, ao servir de “laboratório” para os testes das funcionalidades do sistema.

Antes da implementação do Drummer, a Empresa Metalúrgica programava a produção com planilhas eletrônicas. Nesta época, a programação era uma tarefa que requeria uma semana inteira de trabalho. Com posteriores melhorias no banco de dados da empresa, a programação passou a demorar um dia e, no início da implementação do Drummer, esse tempo reduziu para quarenta minutos.

A Empresa Metalúrgica ajudou a Linter Sistemas a validar as funcionalidades do Drummer, assim como os seus relatórios emitidos e o seu tempo de processamento. O gerente da Empresa Metalúrgica liderou esta primeira implementação e demonstrou a eficácia do software de Teoria das Restrições na manufatura: o atendimento no prazo aumentou, enquanto o inventário e o tempo de produção (lead time) diminuíram.

Já antes do software, se iniciaram tais resultados com a implementação dos algoritmos de Teoria das Restrições em planilhas eletrônicas. No entanto, o Drummer permitiu um processo mais eficiente, aumentando a viabilidade operacional da metodologia. Além disso, melhorou o controle de cada pedido de cliente, facilitando o melhor desempenho em atendimento no prazo.

Durante a implementação, o gerente da Empresa Metalúrgica deu várias contribuições ao novo software ao expressar quais eram os atributos e parâmetros importantes e quais não eram relevantes na perspectiva da manufatura usuária. A Linter Sistemas discutiu com este gerente a maioria dos conceitos do Drummer antes de efetivá-los.

Conforme apresentado no Quadro 1, durante a implementação dos algoritmos de Teoria das Restrições pelo Drummer, se observa na Empresa Metalúrgica mudanças positivas e estatisticamente significativas nos indicadores de desempenho da manufatura.

Quadro 1. Validação da Eficácia do Drummer na Empresa Metalúrgica

Fonte: Pesquisa Direta. (2005)

Empresa Líder no Setor de Informática - Uma empresa líder no setor de informática foi a distribuidora do Drummer de 2001 a 2003, período no qual vendeu oito cópias do novo produto a empresas em sua base de clientes. Deste modo, essa empresa contribuiu para aumentar a visibilidade do Drummer no mercado.

4.3 Estrutura de Relacionamento da Linter Sistemas

Os tópicos a seguir descrevem os tipos de relacionamento que a empresa criadora do Drummer estabeleceu com os seus respectivos parceiros de desenvolvimento.

Com o Instituto Goldratt - Em 1997, Eliyahu Goldratt recomendou a todos seus sócios ao redor do mundo para que dessem apoio a empresas de software na criação de sistemas que operacionalizassem os algoritmos da Teoria das Restrições.

O relacionamento entre a Linter Sistemas e o Instituto Goldratt iniciou-se com o desenvolvimento do software para a programação da produção e continuou com parcerias posteriores para a implementação de Teoria das Restrições nas empresas-cliente, nas quais o Instituto oferecia a consultoria e treinamento na metodologia e a Linter oferecia o sistema para operacionalizar os novos procedimentos.

O relacionamento empresarial também contou com uma nova inovação conjunta. O sócio do Instituto Goldratt contribuiu no desenvolvimento de um software para a definição do mix de produtos e para a precificação por Margem Bruta de Contribuição dividida pelo tempo de produção na operação com restrição de capacidade.

As duas empresas optaram por manter o relacionamento através de acordos informais sem a utilização de contratos legais.

Por meio da rede interorganizacional do Instituto Goldratt, a Linter Sistemas obteve contato indireto com várias empresas de softwares estrangeiros e com várias manufaturas brasileiras usuárias da metodologia. Por isso, este relacionamento viabilizou, além da aquisição do conhecimento explícito contido no livro “A Síndrome do Palheiro”, o conhecimento tácito advindo da longa experiência prática do Instituto em implementações em clientes, assim como o conhecimento sobre as forças e franquezas dos softwares importados de Teoria das Restrições.

Com a Empresa Metalúrgica - A Linter Sistemas e a Empresa Metalúrgica realizaram um acordo informal (sem contratos), no qual, por um lado, a Empresa Metalúrgica não seria cobrada pelo Drummer e, por outro lado, a Empresa Metalúrgica aceitaria ser a implementação piloto de um software ainda não completamente desenvolvido.

Inicialmente, a Empresa Metalúrgica entendia haver risco nessa parceria, uma vez que nada garantia que o software realmente seria concluído e, depois disso, que ele seria mantido pela Linter. Outro risco consistia de ficar dependente de uma empresa de software para atender aos pedidos na manufatura, ou seja, risco de passar para terceiros a operação de um processo de negócio chave. Além disso, a Empresa Metalúrgica incorria em risco competitivo, no caso dos seus concorrentes receberem suas informações confidenciais por meio da Linter. No entanto, nenhum destes riscos ocorreu e o gerente da Empresa Metalúrgica afirma que o relacionamento com a Linter foi positivo e que os acordos de negócio entre as organizações foram respeitados.

Tratou-se, portanto, de um relacionamento com intensa complementaridade de interesses. A Empresa Metalúrgica sofria forte pressão competitiva para melhorar seu desempenho operacional rapidamente e para automatizar a utilização dos algoritmos de Teoria das Restrições, enquanto que a Linter queria desenvolver um produto e, para este fim, validar as funcionalidades de seu software, além de obter um primeiro caso de sucesso para constar em seu portfolio.

Com a Empresa Líder em Informática - Essa empresa de grande porte estava interessada em adquirir know-how em Teoria das Restrições para a programação e controle da produção. Por outro lado, a Linter estava interessada em comercializar o seu novo produto por uma estrutura de distribuição com ampla capilaridade, de modo a aumentar o conhecimento do seu software de Teoria das Restrições no mercado.

Este relacionamento foi formalizado contratualmente. O acordo viabilizou o acesso da Linter Sistemas aos parceiros de distribuição da Empresa Líder de Informática, por meio de uma estrutura de relacionamentos indiretos.

4.4 Evolução da Base de Conhecimento e Estratégia Empresarial

O sócio empreendedor da Linter Sistemas conclui que a base de conhecimento da sua organização evoluiu consideravelmente ao longo do desenvolvimento do Drummer. Por meio dessa experiência de inovação em rede de cooperação, a Linter mudou o seu paradigma estratégico, de modo a abandonar o foco no fornecimento de ERP (Enterprise Resource Planning) para se posicionar como criadora de softwares especializados. Desde então, formalizou a sua definição estratégica para o desenvolvimento de aplicativos complementares ao ERP, ou seja, sistemas para tarefas operacionais específicas.

Na perspectiva do gerente geral da Empresa Metalúrgica, essa primeira empresa usuária contribuiu para melhorar a base de conhecimento da Linter sobre a interface do Drummer. Considera que os relatórios do Drummer - com a base de dados do usuário e do processo analítico e gerencial para se operacionalizar e gerenciar a manufatura - realmente apoiaram os tomadores de decisão a priorizar os pedidos que deviam ser priorizados e a otimizar a utilização da capacidade produtiva. Além disso, por meio do conhecimento tácito dos planejadores de produção, engenheiros de processo e operadores da Empresa Metalúrgica, a Linter aprendeu como conduzir projetos de implementação de seu software.

Por outro lado, a Empresa Metalúrgica também amadureceu a sua base de conhecimento organizacional e o seu direcionamento estratégico, através da participação nesta rede de inovação, porque aprendeu o valor de se automatizar processos de negócio. Depois da experiência de automatizar a programação da produção, a Empresa Metalúrgica também automatizou processos decisórios em vendas, marketing e na engenharia.

O gerente da Empresa Metalúrgica enfatiza que a sua organização só pôde contribuir para o desenvolvimento do software de Teoria das Restrições, porque ele e o seu time já haviam internalizado os conceitos de Teoria das Restrições, por meio de treinamentos do Instituto Goldratt e da utilização dos algoritmos da metodologia em programas de produção simplificados em planilhas eletrônicas. Tanto este aprendizado teórico, como a experiência prática com as rotinas da Teoria das Restrições na produção ocorreram antes do primeiro contato com a Linter.

Portanto, o gerente da Empresa Metalúrgica acredita que a sua competência que mais contribuiu para o desenvolvimento do Drummer foi a de saber exatamente o que ele queria desse software: automatizar os procedimentos que já havia validado em planilha eletrônica e comprovado o funcionamento.

4.5 Avaliação da “Saúde” da Aliança

Os representantes da Linter e da Empresa Metalúrgica avaliaram a “Saúde” da aliança para o desenvolvimento do Drummer, ao ponderar o equilíbrio entre os benefícios e os custos de cada uma das partes integrantes da aliança.

Se a Linter investiu o tempo de seus sócios para adaptar o software às necessidades da Empresa Metalúrgica e lhe ofereceu o Drummer gratuitamente, por outro lado, se beneficiou da aliança por ter acesso à experiência prática da Empresa Metalúrgica no uso dos algoritmos da Teoria das Restrições, o que proporcionou maior garantia de que o software fosse uma ferramenta prática e eficaz. Para isso, a Linter obteve da equipe da Empresa Metalúrgica recomendações sobre: (i) os conceitos adicionais para as funcionalidades do Drummer; (ii) as mudanças em detalhes operacionais; e (iii) a configuração dos relatórios e consultas do software na interface com o usuário.

Mais importante, a Linter também obteve um caso de sucesso convincente, de modo que a Empresa Metalúrgica se transformou em uma referência para o Drummer e atraiu dezenas de visitas de potenciais clientes interessados em presenciar o seu funcionamento antes de adquiri-lo. Além disso, em decorrência de seu desenvolvimento, também desenvolveu um novo software para a Empresa Metalúrgica: A Bússola - “Drummer Mix” - um software para precificação e definição do mix de produtos que maximiza a lucratividade da manufatura usuária. Este software, que hoje conta com doze cópias instaladas, também foi desenvolvido a partir de algoritmos do Instituto Goldratt, os quais a Empresa Metalúrgica estava utilizando em planilhas eletrônicas.

Para a Empresa Metalúrgica, os principais custos foram o considerável tempo de sua equipe dedicado ao projeto, as despesas de transporte da Linter, além de investimentos em banco de dados, em um computador e em uma adaptação de seu sistema integrado de informação. A Empresa Metalúrgica também assumiu o risco de que a Linter poderia eventualmente abandonar o Drummer, pois, naquela época, a Linter era uma empresa pequena.

Em contrapartida, a aliança com a Linter proporcionou à Empresa Metalúrgica a automatização dos procedimentos de uso dos algoritmos de Teoria das Restrições e uma maior acuracidade das informações, o que viabilizou com que a empresa pudesse obter maior foco mercadológico na demanda a fim de aumentar a lucratividade pela utilização seletiva da capacidade de suas operações. A Empresa Metalúrgica também pôde reduzir estoques, melhorar o tempo de entrega e recuperar sensivelmente as condições financeiras da empresa.

As medidas tomadas para melhorar a “saúde” da aliança, no sentido de se atenuar os custos e riscos dos parceiros foram as seguintes:

  1. Se por um lado a Linter abdicou de cobrar o preço do Drummer, por outro lado, a Empresa Metalúrgica concordou em receber visitas de diversos clientes potenciais da Linter, o que favoreceu as vendas do Drummer nos anos seguintes;
  2. A Empresa Metalúrgica estava confiando a sua programação da produção a uma empresa pequena e a um produto que eventualmente poderia ser descontinuado. Para atenuar a percepção de risco da Empresa Metalúrgica, os sócios da Linter dedicaram uma grande carga horária ao projeto para solucionar as necessidades da Empresa Metalúrgica rapidamente. Tal fato evidenciou à Empresa Metalúrgica que os sócios da Linter realmente acreditavam no seu novo software.

4.6 As Redes de Inovação da Linter - Análise Estrutural

A Figura 2 representa uma visão de conjunto da estrutura de relacionamentos da Linter durante o desenvolvimento do Drummer. O conceito e os algoritmos de Teoria das Restrições foram obtidos do Instituto Goldratt, assim como os relatos sobre as melhores práticas de manufaturas no uso destes algoritmos.

Figura 2 Estrutura de Relacionamentos no Modelo de Negócio de ERP Desenvolvendo um Software Complementar

Fonte: Pesquisa Direta. (2005)

 

O fluxo financeiro que sustentou o projeto de desenvolvimento advinha das receitas geradas no mercado atual da Linter que consistia de usuários de seu produto anterior ao Drummer que era o ERP (Enterprise Resource Planning) da Linter.

O conhecimento tácito chave para se garantir funcionalidades eficazes resultou dos testes realizados na manufatura da Empresa Metalúrgica. No entanto, a própria Empresa Metalúrgica gerou tais conhecimentos tácitos através da internalização do conhecimento explícito sobre a Teoria das Restrições obtido dos treinamentos ministrados pelo Instituto Goldratt.

Por fim, a Linter obteve maior capilaridade de distribuição do software através de parceria com a Empresa Líder de Informática que, por sua vez, também tinha parcerias prévias com o Instituto Goldratt.

A estrutura da rede de inovação para o desenvolvimento do Drummer viabilizou que a Linter mudasse seu modelo de negócio e a sua estrutura de relacionamentos interorganizacionais em desenvolvimentos de produtos posteriores a este software.

A Linter passou de fornecedora de ERP para fornecedora de softwares especializados. Para isso, surge como perspectiva futura uma estrutura de relacionamentos que adquire conhecimentos explícitos em novos algoritmos a partir de relacionamentos indiretos em redes abertas com institutos de metodologias de gestão para, então, transformar tais conhecimentos explícitos em conhecimentos tácitos através de testes em manufaturas usuárias nas implementações piloto, por meio de relacionamentos diretos em rede fechada (Figura 3).

 Figura 3 Potencial Estrutura de Relacionamentos para o Modelo de Negócio de Softwares Especializados

Fonte: Pesquisa Direta. (2005)


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