ISSN-L: 0798-1015 • eISSN: 2739-0071 (En línea) - Revista Espacios – Vol. 42, Nº 19, Año 2021
LARA, Luiz Marcelo de et al. «O que é uma universidade tecnológica no Brasil?»
com a institucionalização da Pró-Reitoria de Relações Empresariais e Comunitárias (PROREC). Nenhuma
universidade brasileira tem uma pró-reitoria análoga.
Na junção dos dois documentos examinados, a Lei de criação e no primeiro PPI, tem-se os contornos do UT do
Brasil. A inexistência de modelo anterior e a recentidade da UTFPR permitem perspectivar o modelo como em
construção. Conquanto, o modelo adotado na UTFPR apresenta alguns limites que permitem distinções das
universidades clássicas e se aproxima da ideia de UT internacionalmente aceita. Entre os limites têm-se, a ênfase
na educação tecnológica, o foco em problemas reais, a perspectiva do desenvolvimento socioeconômico local e
regional, a orientação para a pesquisa aplicada e para a articulação com o setor produtivo. O desvio das
propostas iniciais encontra-se no distanciamento institucional dos cursos técnicos que tendem ao
desaparecimento. Em termos práticos, diferente do tripé ensino, pesquisa e extensão que serve de fundamento
para a ideia de universidade no Brasil, a proposta é edificada no tripé educação tecnológica, pesquisa aplicada e
relacionamento empresarial. Na questão do relacionamento empresarial, na França, referência utilizada pela
UTFPR, a questão é colocada em termos de transferência de tecnologia (Cechin, 2019; Lievore e Pilatti, 2018).
Do ponto de vista legal, nada distingue a UTFPR das demais universidades federais, ou seja, não existe um sistema
binário no Brasil. A inexistência de distinções coloca para a UTFPR problemas legais, como a possibilidade muito
limitada de ter profissionais da indústria em seus quadros, para a efetivação da ideia de UT, mais prática e
próxima do setor produtivo, uma universidade do mundo real. Nem mesmo legislações que projetaram avanços
importantes, como a Lei da Inovação, produziram possibilidades reais para um cenário efetivamente voltado
para a tecnologia. É adequado destacar que as distinções existem quando se examina, por exemplo, as
universidades e os IFs, mas são distinções de instituições com atuação em graus distintos de ensino.
Tendo em vista que a linha que separa o clássico do tecnológico é tênue, o deslocamento pendular,
principalmente do tecnológico para o tradicional, é bastante factível. Nos termos de Cunnane (2018) é a Ut
escrevendo seu t minúsculo. A aproximação do modelo clássico é uma preocupação revelada pela UTFPR nos
seus projetos pedagógicos (Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2014, 2019).
Estudos como os de Lievore e Pilatti (2018) e Costa e outros (2019) mostram o afastamento do modelo
constitutivo. Chama atenção, também, a política e a definição de diretrizes para criação de cursos regulares
presenciais vinculados à Pró-Reitoria de Graduação e Educação Profissional, aprovada no órgão máximo da
Instituição (Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2018). O documento é uma tentativa clara de correção
de curso. Evidentemente é possível pensar numa instituição que usa a tecnologia como meio, mas nem sempre
a prática corresponde com o projetado. A inexistência de referências torna a manutenção do foco bastante
complexa. Iniciativas presentes na progênie da UTFPR, como a disciplina de empreendedorismo em todos os
cursos, se perderam. A ideia de cursos práticos também se perdeu. A comparação de cursos ofertados na UTFPR
com os ofertados em universidades clássicas, quase sempre, apresenta muita semelhança.
Uma explicação possível, encontra-se na percepção de que as UTs são instituições de segunda classe e destinadas
às classes mais desfavorecidas (Houghton, 2020). Em oposição, a ideia de universidade, revestida de uma
tradição quase milenar, é detentora de um status superior. Para Lessa (2005), “[...] a Universidade não é o
andaime da educação nacional, e sim seu alicerce. [...]. É o modo civilizado de presença, em vez da baioneta e da
moeda dominante” (pp. A18). A percepção, em alguma medida, explica o trânsito das escolas da mão na graxa
para o nível de ensino superior do país.
Atualmente, tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei n
o
1.453 (Brasil, 2021). O projeto, em essência,
propõe alterar a Lei n
o
11.892 (Brasil, 2008). Na proposta, destaque para o art. 8 que eleva do mínimo de 50 para
75% da oferta de vagas em cursos de educação profissional técnica de nível médio. Na proposta, a UTFPR é
retirada da rede. O projeto de lei pode ser interpretado como uma tentativa de retorno do pêndulo da rede para