Espacios. Espacios. Vol. 30 (3) 2009. Pág. 38

Que fatores facilitam a gestão do conhecimento em um cluster de empresas?

What factors facilitates the management of the knowledge to cluster of companies?

¿Qué factores facilitan la gestión del conocimiento en un cluster de empresas?

Raphaela Maria de Castro e Silva Vidal*, Marcos André Mendes Primo** y Claudemir Inacio dos Santos***

Recibido: 08-04-2009 - Aprobado: 10-05-2009


Contenido


RESUMO:
O diferencial competitivo torna-se essencial para a sobrevivência das empresas. Neste contexto, surge o formato de cluster de empresas e a gestão do conhecimento como novos interesses dos gestores. Este artigo é teórico, cujo objetivo é discutir os fatores que podem facilitar a gestão do conhecimento em um cluster de empresas. E torna-se relevante pelas correlações efetuadas entre os arcabouços teóricos de gestão do conhecimento e de cluster, uma vez que foi identificada escassez de obras que focassem nessa abordagem. Os resultados evidenciam que o ambiente organizacional, cultura organizacional e apoio da alta administração contribuem para o processo.
Palavras-chave: Gestão do Conhecimento; Cluster; Empresas.

ABSTRACT:
The competitive advantage become essencial to make firms survive. In this context, the cluster of firms model, and knowledge management are highlighted as a managers´ new interests This article is a theorical study and become relevant because makes co-relations between knowledge management literature and Cluster literature, because it was identifyed there is scarcity of studies that focuses on this approach. The findings point organizational enviroment, organizational culture and the boarder´s support contibute to doing knowledge management in the cluster of firms
Key words: Knowledge Management; Cluster; Firms.

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RESUMEN:
El diferencial competitivo es esencial para la supervivencia de las empresas. En este contexto, surge el formato de cluster de empresas y la gestión del conocimiento como nuevos intereses de los gestores. Este artículo es teórico, cuyo objetivo es discutir los factores que pueden facilitar la gestión del conocimiento en un cluster de empresas. Es relevante por las correlaciones efectuadas entre los esquemas teóricos de gestión del conocimiento y de cluster, una vez que ha sido identificada la escasez de estudios que aborden los temas. Los resultados evidencian que el ambiente organizativo, cultura organizativa y apoyo de la administración contribuyen al proceso.
Palabras-clave: Gestión del conocimiento; Cluster; Empresas.

1. Introdução

O mundo contemporâneo é caracterizado por rápidas transformações na estrutura social, econômica, política e tecnológica, que pressionam as organizações a desenvolver capacidades essenciais e sustentáveis, voltadas para a inovação como forma de obter longevidade e competitividade. Estas transformações incluem a idéia de organização como um sistema de geração de conhecimento e a idéia de trabalho como uma forma de desenvolvimento humano.

A iminência desta nova era condicionará a sobrevivência das organizações a sua adaptabilidade às constantes mudanças ambientais. Neste contexto, as empresas serão submetidas a desafios que exigirão capacidade de adaptação para atender rapidamente aos acontecimentos do meio em que atuam e para garantir a sua sobrevivência e desenvolvimento.

Neste ambiente, o conhecimento é apontado como a única fonte de vantagem competitiva duradoura (NONAKA; TAKEUCHI, 1997) e como o principal ativo intangível, podendo ser, talvez, a mais importante e valorizada tendência das empresas (ZIMMER; BOFF, 2005). Para estes autores, as empresas têm necessidade de gerir sistematicamente os conhecimentos existentes com o intuito de permitir a criação de novos conhecimentos.

A gestão do conhecimento é um campo de estudo relativamente novo em que as organizações procuram desenvolver, aliando-se à aprendizagem organizacional, como forma de captar conhecimentos-chave indispensáveis que agregarão valor ao negócio e constituirão vantagem competitiva. Este processo começa a partir do conhecimento individual que evolui para o conhecimento organizacional, por isso, alguns autores (NONAKA; TAKEUCHI, 1997; PROBST; RAUB; ROMHARDT, 2002) o dividem no plano individual e no plano organizacional. Nonaka e Takeuchi (1997) enfatizam que só as pessoas podem assumir papel central no processo de criação de conhecimento.

O objetivo central da gestão do conhecimento, a partir deste momento chamado de GC, é gerenciar e fomentar as capacidades da organização (CHOO, 2003). Probst, Raub e Romhardt (2002, p. 35) acrescentam que “o objetivo integral da GC é assegurar que o conhecimento presente em uma organização seja aplicado produtivamente em seu benefício”. O conhecimento aplicado deixa de ser coadjuvante em processos de tomada de decisão e passa a ser ator principal que pode conduzir a empresa à condição de vencedora. A busca, compartilhamento, absorção e assimilação de conhecimento são essenciais durante o processo.

No formato organizacional de cluster de empresas, em que os fatores de localização geográfica, articulação, cooperação e difusão de informações são características marcantes e fundamentais para o desenvolvimento de um aglomerado de empresas, o fluxo de conhecimento pode ser estimulado e potencializado. Levando em consideração as temáticas, GC e cluster, o objetivo do artigo é discutir os fatores que podem facilitar a GC em um cluster de empresas a partir dos modelos de Nonaka e Takeuchi (1997), de Probst, Raub e Romhardt (2002) e de Choo (2003).

O presente estudo demonstra sua relevância acadêmica pelas correlações efetuadas entre o arcabouço teórico de GC e de cluster de empresas, uma vez que foi identificada, a partir de levantamento bibliográfico, escassez de obras que focassem nessa abordagem. E do ponto de vista prático, contribui com análise dos elementos que podem facilitar a GC em um cluster de empresas, levando em consideração toda gama de benefícios que a GC pode proporcionar dentro de um aglomerado.

O artigo está estruturado da seguinte forma: a seção 2 caracterizará o estudo e a metodologia empregada. A seção 3 abordará a GC como ferramenta de sucesso para as organizações, apresentando os modelos de GC que mais contribuíram à literatura empresarial; A seção 4 apresentará o formato de cluster como uma nova forma de gestão empresarial, discutindo as principais componentes inerentes a um aglomerado.A seção 5 discutirá os principais fatores que poderiam facilitar a GC em um cluster. E por fim, as considerações finais.

2. Metodologia

O artigo caracteriza-se por teórico, baseado em fontes secundárias obtidas através de pesquisa bibliográfica. A estratégia de levantamento do material estudado foi focada na busca de pressupostos que originaram os primeiros trabalhos na área de gestão do conhecimento e de cluster de empresas, resultando na identificação de autores de obras clássicas como Nonaka e Takeuchi; Probst, Raub e Romhardt; Davenport e Prusak; Choo; Porter, entre outros. Posteriormente, a busca foi focada em artigos que relacionassem as duas temáticas diretamente e que trouxessem contribuição ao conhecimento. Neste aspecto, foi percebida escassez de material e que o assunto poderia ser mais bem explorado nessa vertente que o presente artigo se propõe a analisar.

3. Gestão do conhecimento

Nos últimos anos, observa-se um crescente interesse pelo campo da gestão do conhecimento por pesquisadores, corpo gerencial de empresas e instituições (LANDAETA, 2003). O conhecimento é visto como recurso. A forma como a empresa trata este recurso, gerindo seu compartilhamento, é o que a levará ao sucesso.

Davenport e Prusak (2003) definem conhecimento como um composto constituído por experiências, valores e informações que se originam nas mentes das pessoas. Nas organizações, o conhecimento se apresenta através de documentos, processos e normas.

Com isso, pode-se inferir que o conhecimento originado nas mentes das pessoas é algo totalmente subjetivo e dependerá dos significados atribuídos por cada pessoa às suas experiências, valores e crenças. De uma mesma informação, pode-se obter diferentes conhecimentos, ou seja, uma informação não tem significado por si mesmo, até que as pessoas determinem o que representam (EASTERBY-SMITH; ARAUJO 2001).

Alguns autores têm abordado transformações da “era industrial“ para a “era do conhecimento”, em que o conhecimento passa a ser ferramenta fundamental para agir competitivamente no mercado. A GC tem como propósito administrar o conhecimento como recurso interno importante para a organização.

Quintas,Lefrere e Jones(apud Baêta, A., Martins e Baêta, F; 2002, p.2) consideram a GC como:

“um processo de administração continuada de todo tipo de conhecimento existente na organização; necessidades emergentes para identificar e explorar os recursos de conhecimento existentes e adquiridos e desenvolver novas oportunidades”.

O sucesso da implantação da GC começa com as pessoas. O conhecimento está “nas mentes” dos funcionários (NONAKA; TAKEUCHI, 1997; DAVENPORT; PRUSAK, 2003). A GC vai tratá-lo como ativos intelectuais e através de coordenação de processos, transformá-lo em conhecimento organizacional para gerar resultados efetivos para a organização.

O conhecimento é de vital importância para as organizações. Um dos princípios da GC é que todo o conhecimento existente nas pessoas, departamentos, processos, ou seja, na organização, pertence à própria organização. E cabe à organização proporcionar ambiente favorável à geração, compartilhamento e administração do conhecimento. O conhecimento que não estiver disponível e não for aplicado não tem utilidade.O grande desafio da GC é transformar o conhecimento tácito em conhecimento explícito e fazê-lo disponível a todos os funcionários. O conhecimento só terá valor se for aplicado à organização e a seus processos e produtos.

Choo (2003) argumenta que uma organização possui três tipos de conhecimento. O conhecimento tácito que é inerente às pessoas e, por isso, de difícil formalização e transmissão. Este conhecimento serve de base para a organização aprender e inovar. O conhecimento explícito é o conhecimento codificado que pode ser passado para as outras pessoas através de meios de comunicação e forma a base dos procedimentos operacionais e normas organizacionais, garantindo a uniformidade da operação e do controle. E o conhecimento cultural que diz respeito às histórias, metáforas, visões que são transmitidos, ao longo dos anos, no âmbito organizacional.

Os modelos de Nonaka e Takeuchi (1997), de Probst, Raub e Romhardt (2002) e de Choo (2003) discutiram e aprofundaram idéias sobre conversão, aquisição, compartilhamento e manutenção de conhecimento nas organizações, o que geraram modelos que são amplamente difundidos no meio acadêmico e serão tratados na sub-seção 3.1.

3.1 Principais modelos

Esta seção apresenta os principais modelos de gestão do conhecimento. O primeiro modelo apresentado é o da criação de conhecimento proposto por Nonaka e Takeuchi (1997). É considerado um modelo que gerou grande contribuição à literatura sobre a temática (ORTIZ LAVERDE; BARAGAÑO; SARRIEGUI DOMINGUEZ, 2003). O segundo modelo proposto por Probst, Raub e Romhardt (2002) considera a gestão do conhecimento um ciclo dinâmico. E por último, apresenta-se o ciclo de conhecimento de Choo (2003).

3.1.1 Modelo de Criação de Conhecimento de Nonaka e Takeuchi (1997)

Por criação do conhecimento organizacional, Nonaka e Takeuchi (1997, p.1) afirmam que é “a capacidade de uma empresa de criar novo conhecimento, difundi-lo na organização como um todo e incorporá-lo a produtos, serviços e sistemas”.

No modelo de Nonaka e Takeuchi (1997), a criação do conhecimento é analisada em duas dimensões: epistemológica e ontológica. A primeira se fundamenta na distinção entre os dois tipos de conhecimento, o tácito e o explícito. A interação entre eles deu origem a quatro modos de conversão de conhecimento: (1) Socialização, diz respeito ao processo de se adquirir conhecimento tácito através do compartilhamento de experiências entre as pessoas. Pode ser por meio da linguagem ou pela convivência entre as pessoas, proporcionando aprendizagem pela observação, imitação e prática.(2) Externalização, refere-se ao processo de conversão do conhecimento tácito em explícito. Este processo se desenvolve através de diálogos significativos, utilizando-se de metáforas e analogias que possibilitem ao grupo revelar seu conhecimento tácito. Nota-se, portanto, que este modo de conversão é muito importante para a criação de conhecimento, já que cria conceitos novos a partir de conhecimentos tácitos.(3) Combinação, diz respeito aos conhecimentos explícitos gerados a partir de conversas, discussões, e-mails e reuniões que serão sistematizados, classificados, incrementados, podendo formatar novo conhecimento explícito.(4) Internalização refere-se ao processo de incorporação do conhecimento explícito em tácito. Trata-se de absorver o que foi explicitado e aplicá-lo posteriormente em outro conhecimento.

É a partir da dimensão epistemológica, explicitada anteriormente por meio dos quatro modos de conversão do conhecimento, que Nonaka (1997) defendem a sua posição ontológica, qual seja a de que o conhecimento só pode ser criado por indivíduos. Para Nonaka (1997, p.27), o conhecimento organizacional só pode ser obtido pela transformação do conhecimento dos indivíduos: “O conhecimento novo sempre começa no indivíduo. [...] O conhecimento pessoal do indivíduo é transformado em conhecimento organizacional, valioso para toda a empresa”.

3.1.2 Modelo de Probst, Raub e Romhardt (2002)

Os autores propõem, a partir deste modelo, os elementos construtivos essenciais da gestão do conhecimento, os quais são inter-relacionados. Sua maior contribuição foi acrescentar às idéias de Nonaka e Takeuchi (1997) fases mais detalhas dos processos e os elementos de metas e avaliação de conhecimento.

O ciclo é composto pelas seguintes etapas: (1) Identificação do conhecimento - identificar os conhecimentos internos e externos que são importantes para a empresa; (2) Aquisição de conhecimento - a empresa parte para integrar conhecimento externo à sua base de conhecimento; (3) Desenvolvendo conhecimento – a organização se concentrará na construção de novas habilidades, competências, idéias e produtos a partir do que foi buscado na fase anterior; (4) Distribuição ou compartilhamento de conhecimento - é o processo de disseminar conhecimento que já está presente na organização; (5) Utilização – processo que garantirá que o conhecimento, uma vez identificado, adquirido e desenvolvido seja aplicado na organização para alcançar resultados visíveis; (6) Preservação ou retenção de conhecimento –Trata-se do processo de seleção do conhecimento que merece ser guardado. Esta fase é fundamental para garantir a memória da empresa, evitando perdas de conhecimento durante sua existência.

Os aspectos incorporados à análise são as metas de conhecimento e avaliação de conhecimento. A fixação de metas de conhecimento determinará em que direção a empresa seguirá na busca de conhecimento, estabelecendo que habilidades devem ser construídas e em que nível.A avaliação de conhecimento designa-se para medir a base de conhecimento da empresa. Estes aspectos dirigirão e influenciarão todo o processo de GC.

3.1.3 Modelo Ciclo de Conhecimento de Choo (2003)

O ciclo de conhecimento proposto por Choo (2003) toma como base e explora o modelo de Nonaka e Takeuchi (1997). O autor desenvolve seu modelo em três arenas, criação de significados, construção de conhecimentos e tomada de decisão, que são interligadas, mantendo um contínuo fluxo de informações entre elas.

Criação de significados - nesta arena, busca-se entender o que ocorre em sua volta, suas interpretações do ambiente exterior, ou seja, dar significados às informações. O significado influencia a cultura e é influenciado por ela. Na criação de significados, os colaboradores negociam as crenças e interpretações para construir significados compartilhados. Assim, podem reduzir as ambigüidades e incertezas das mensagens provenientes do ambiente externo.Estes significados devem ser atualizados, comparando-os ao ambiente externo para verificar se continuam válidos.

Construção de conhecimento - nesta arena encontram-se envolvidos os conhecimentos tácitos, de difícil verbalização; explícito, que é codificado, e cultural, amplamente divulgado pela organização. Aqui, existe a conversão do conhecimento tácito em explícito, resultando em novas capacidades e inovação.

Tomada de decisão - Os novos conhecimentos e capacidades vão dirigir as novas formas de ação, ou seja, facilitarão a busca de alternativas para responder às exigências do ambiente externo. Os procedimentos e regras da organização influenciarão como aquela lida com as escolhas e incertezas.

Nesta seção foram apresentados a GC e seus principais modelos. A próxima seção apresentará as idéias de cluster e principais elementos inerentes ao formato.

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* Pesquisadora do núcleo de pesquisa GIRO (Gestão de Inovação em Redes de Operações) E-mail: fafavidal@hotmail.com
** Coordenador do núcleo de pesquisa GIRO (Gestão de Inovação em Redes de Operações). E-mail: marcos.primo@ufpe.br
*** Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). E-mail: claudemir.santos@uol.com.br

Vol. 30 (3) 2009
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