Espacios. Vol. 32 (3) 2011. Pág. 1


A mídia no desenvolvimento dos arranjos produtivos locais: APL de moda praia de Cabo Frio

The media in the development of local productive arrangements: APL swimwear Cabo Frio

Los medios de comunicación en el desarrollo de arreglos productivos locales: APL Moda de playa Cabo Frio

Waldemar Madeira Magnavita*, Elaine Cavalcante Peixoto Borin**, Mariza Almeida*** y Branca Terra****

Recibido: 23-10-2010 - Aprobado: 16-12-2011


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RESUMO:
Este trabalho tem como objetivo geral apresentar a importância da mídia no desenvolvimento dos Arranjos Produtivos Locais (APL's). Os APL's são organizados por meio de uma metodologia de desenvolvimento local para formação de trabalho e renda. Para a constatação das evidências empíricas, o trabalho foi fundamentado num estudo de caso no Arranjo Produtivo de Moda Praia de Cabo Frio/RJ. Como metodologia, a pesquisa de campo teve como suporte uma revisão bibliográfica sobre APL's, com levantamento dos conceitos de utilização de informação através de mídias locais, além de técnicas de levantamento de dados através de entrevistas e observação do local de estudo. O artigo conclui que é necessário e é viável a utilização da mídia por qualquer arranjo produtivo, como o estudado. Basta criar e manter um núcleo de comunicação para gerar e gerenciar os conteúdos destinados à comunicação com o público-alvo específico de cada arranjo.
Palavras-chave: arranjo produtivo local, mídia, desenvolvimento local.
 

ABSTRACT:
This paper aims to present the general importance of the media in the development of Local Productive Arrangements. The work was based on a case study in Arrangement Fashion Beach Cabo Frio / RJ. The research has been supported by a literature review on arrangements, a survey of concepts of use of information through local media, and techniques of data collection through interviews and observation of the study site. The article concludes that it is necessary and feasible to use the media for any productive arrangement. Is important create and maintain a core of communication to create and manage content for the communication with the audience-specific arrangement.
Keywords: local productive arrangement, media, local development.

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RESUMEN:
El trabajo tiene por objetivo presentar la importancia de la media en el desarrollo de las Combinación Productivas Locales. El trabajo fue fundamentado en un estudio de caso de la combinación productiva de Cabo Frio/RJ. La investigación tiene como soporte bibliografía sobre el combinación productivas locales, relevamiento de los conceptos de utilización de la información mediante la media local, relevamiento de datos a través de entrevistas y observación local. El artículo concluye que es necesaria y viable la utilización de los medios de comunicación por cualquier combinación productiva local. Basta crear y mantener un núcleo de comunicación para generar y gerenciar los contenidos destinados a la comunicación con el público seleccionado de cada combinación.
Palabras claves: combinación productiva local, media, desarrollo local.

Introdução

Nas relações que compõem a infra-estrutura de uma sociedade, se estabelecem as superestruturas que visam disciplinar as tensões, resolver os conflitos e garantir a continuidade das relações de produção, vitais para o desenvolvimento social. São instituições nascidas das leis, acordos, mitos e decisões que tentam resolver as situações de conflito (Guareschi, Bizz, 2005). Algumas dessas instituições são órgãos repressivos que usam da coerção e da força para atingir este objetivo. Já outras usam de processos ideológicos como a persuasão para atingir o mesmo objetivo.

A Comunicação Social é um desses processos ideológicos que dispõem de meios próprios, e que está aparelhada para, de forma independente, realizar a ação institucional de convencimento através da formação de opinião por justificação ou por reprodução, ou de legitimação de linhas de produtos como necessários ao bom funcionamento da sociedade.

A Comunicação Social é um aparelho ideológico porque expressa e transmite um eixo de valores e visões de mundo, de princípios e de idéias. Mas não apenas: a família, a religião, a educação, a assistência social também são aparelhos ideológicos.

O uso da informação sempre foi elemento importante em todos os processos relacionais em uma sociedade. O controle e a difusão da informação vêm sendo cada vez mais necessários para que se atinjam os objetivos nos processos produtivos, educacionais, políticos ou mantenedores da ordem. Quando se fala de sistemas econômicos e de fórmulas e métodos de desenvolvimento não se pode deixar de colocar a geração e controle da informação como ponto chave para o sucesso.

Novos saberes e competências e seus instrumentos tecnológicos estão sendo mais largamente utilizados como formas de inovar e organizar o processo produtivo, e estas novas formas requerem uma maior intensidade no uso de informação e conhecimento (Lastres, Albagli, 1999).

Ora, numa organização social, a informação flui através de canais, ou mídias, que fazem parte de um aparelho ideológico importante para ela: a comunicação social.

Qualquer metodologia de desenvolvimento tem, necessariamente, de levar em consideração e incluir o uso intenso dos fluxos comunicacionais através da geração de conteúdos informacionais e do uso da mídia como chave para o sucesso das metas de geração de trabalho e renda. O fator renda está, nos mercados globalizados de hoje, intimamente relacionado à capacidade de mobilização do público consumidor em favor de determinada produção, ou proposta social que envolva uma produção.

Historicamente, o desenvolvimento sempre foi visto como um processo dependente de investimentos públicos ou de instalação de empresas. Porém, iniciativas vindas de outras regiões do mundo, notadamente a partir da experiência do tipo distritos industriais italianos, demonstraram a necessidade de uma organização local e de uma participação do cidadão no processo.

Segundo Britto (2000), há evidências que as recentes transformações da economia brasileira aumentaram o interesse na consolidação de clusters industriais. O mesmo autor destaca a pressão por uma maior eficácia na utilização de fatores produtivos que estimulem a localização de atividades produtivas em regiões onde já existam instrumentos favoráveis, como mão-de-obra especializada e recursos naturais.

Este direcionamento irá criar um tipo de concentração local, que vai passar por vários estágios com diferentes tipos de organizações de produção e governança. Existem as experiências ocorridas, por exemplo, na Califórnia (EUA), com o Silicon Valley (Piore, Sabel, 1984), e na Itália, com os Distritos Industriais Marshalliano (a Terceira Itália) (Becattini, 1994) que, apesar de partir de uma aparente espontaneidade, evoluíram e fizeram surgir estruturas e mecanismos de suporte com diretrizes voltadas para a organização e melhor desempenho do aglomerado de empresas.

Os arranjos produtivos vêm a se constituir, então, em uma alternativa de desenvolvimento com características empreendedoras que efetivamente tem o poder de alterar as relações econômicas de uma região e se constituem em opção efetiva de geração de trabalho e renda.

Uma comunidade é formada de pessoas com seus valores, conhecimentos e habilidades e é isso que cria sua identidade e sua característica e força de produção (Guareschi, Biz, 2005). O fundamental é que as pessoas tenham a liberdade, por exemplo, de utilizar a informação disseminada por meios de comunicação (mídias) para transformá-las em conhecimento e ações de transformação do meio em que vivem.

A mídia é presença permanente na vida das sociedades globalizadas atuais e não apenas domina, invade, mas também informa, atende a uma demanda social, reflete e evidencia valores culturais.

 Os APL’s necessitam de incentivo ao desenvolvimento, e de dinamização da comunidade local para a geração de trabalho e renda. Este incentivo pode ser dado pelo controle dos processos midiáticos que orientem a informação em benefício da conquista e da permanência das empresas no mercado (Caporali, Volker, 2004).

Este trabalho tem como objetivo geral estudar a presença da mídia no desenvolvimento dos Arranjos Produtivos Locais e os objetivos específicos são: verificar como os atores dos APL’s desenvolvem as diferentes mídias; como ocorre a difusão da informação e o seu controle, considerada esta, fator estratégico para a participação das empresas dos APL’s nos mercados; como são gerados os conteúdos comunicacionais, para que os atores: expressem a realidade do arranjo; atraiam novos atores para o processo de desenvolvimento e gerenciem o controle da mídia como forma de otimizar, com economia e eficácia, o alcance das informações.

Para a constatação das evidências empíricas, o trabalho foi fundamentado em um estudo de caso no Arranjo Produtivo de Moda Praia de Cabo Frio/RJ, localizado na Região dos Lagos, no Estado do Rio de Janeiro. Como metodologia, a pesquisa de campo teve como suporte uma revisão bibliográfica sobre APL’s, com levantamento dos conceitos de utilização de informação através de mídias locais, além de técnicas de levantamento de dados através de entrevistas e observação do local de estudo.

O artigo será apresentado da seguinte forma: introdução; os arranjos produtivos locais; a mídia e a comunicação no APL; as ações de mídia no pólo de moda praia de Cabo Frio/RJ e considerações finais

Arranjos Produtivos Locais

Convergindo desenvolvimento e evolução no âmbito local, regional e nacional, a Rede de Sistemas Inovativos da UFRJ - RedeSist desenvolveu os estudos sobre sistema produtivo e inovativo local (SPIL) como “um conjunto específico de atividades econômicas que possibilite e privilegie a análise de interações, particularmente aquelas que levam à introdução de novos produtos e processos” (Lastres et. al. 2003:27).

Na ótica destes estudos, em um sistema e/ou arranjo produtivo local (APL) é dada importância, principalmente, às relações e interações entre atores, localizados num mesmo território, voltados para o fluxo de conhecimento e os processos de aprendizagem que interfiram decisivamente no incremento da capacitação produtiva, organizacional e inovativa destes atores, com vistas à criação de uma vantagem competitiva de mercado. Segundo a RedeSist, Arranjo Produtivo Local (APL) é uma aglomeração de agentes econômicos, políticos e sociais, num dado território, “com foco específico em um conjunto de atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que incipientes” (Lastres et. al. 2003:27).

Entre os atores participantes do APL, além dos trabalhadores, estão empresas que atuam como fornecedores ou consultorias e, até mesmo, como participantes de etapas do processo produtivo. Também estão presentes diversas instituições, públicas ou privadas, voltadas para a educação e aprendizagem, pesquisa e desenvolvimento, financiamento e promoção.

Os autores (Lastres et. al. 2003, p.37) reconhecem que a competitividade obtida pelo arranjo produtivo não se restringe apenas à atividade produtiva, mas abrange um campo maior de atividades e capacitações que “incluem design, controle de qualidade e atividades relativas a marketing e à comercialização, além de uma série de atividades ligadas à geração, aquisição e difusão de conhecimentos”.

O grande problema que se apresenta é o de como transformar aglomerados em arranjos produtivos locais e como a mídia é capaz de influenciar este processo, com um grau de alcance e complexidade que possa ser absorvido pelos atores locais e que proporcione, ao mesmo tempo, a tão desejada vantagem competitiva. O principal obstáculo, no caso de países em desenvolvimento como o Brasil, é a visão reducionista de que “a única maneira de transformar aglomerações em arranjos e sistemas locais dinâmicos é a partir de exportações e da integração em cadeias globais” (Lastres et. al. 2003:48).

A solução para este problema é partir para uma visão mais abrangente que inclua iniciativas na área da produção, da inter-relação entre as empresas, do trabalho qualificado, da governança local e das políticas institucionais.  Na produção, com aumento de especialização e da qualidade do produto. Na inter-relação, através da verticalização da produção e aumento da participação de instituições visando suprir a necessidade do aumento da capacitação de mão-de-obra e de pesquisa, desenvolvimento e inovação (P&D&I). Da governança, que deve ter a visão da necessidade de novas políticas que garantam o estabelecimento da cooperação no nível local, do enraizamento da inovação e do controle dos processos mercadológicos. Por fim, mas não menos importante, o papel da mídia para potencializar a participação no mercado e capaz de agir como a ferramenta precisa para levar tudo este esforço ao mercado e garantir o retorno de todo este investimento.

Desta maneira, um aglomerado evolui para um arranjo produtivo local com melhor poder de resposta aos desafios propostos pela participação no mercado e conseqüente retorno de benefícios traduzidos por elevação do nível de renda de seus atores.


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* Mestre em desenvolvimento local; Unisuam; wmagnavita@gmail.com
** Elaine Cavalcante Peixoto Borin – Doutora em Planejamento Urbano e Regional; Unisuam e UERJ; elaine.borin@ig.com.br
*** Mariza Almeida – Doutora em Produção; Unisuam; mariza.almeida@globo.co
**** Branca Terra – Doutora em Produção; UERJ e Castelo Branco; brancaterra@gmail.com


Vol. 32 (3) 2011
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