ISSN 0798 1015

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Vol. 38 (Nº 21) Año 2017. Pág. 25

Qualidade de Vida e Capacidade de Trabalho em trabalhadores do setor de produção

Quality of Life and Ability to Work in the industry production workers

Marcela de MORAES 1; Erivelton Fontana DE LAAT 2; Jorge Willian Pedroso SILVEIRA 3

Recibido: 09/12/16 • Aprobado: 23/12/2016


Conteúdo

1. Introdução

2. Metodologia

3. Resultados e Discussão

4. Conclusão

Referências


RESUMO:

Objetivo: O objetivo deste estudo foi avaliar, comparativamente, a capacidade para o trabalho e a qualidade de vida (QV) em trabalhadores do setor de produção de uma empresa de porte médio.
Métodos: Participaram da pesquisa 45 trabalhadores, todos do sexo masculino com idade média de 26,4 ± 7,74 anos. Para a avaliação da QV foi aplicado o Instrumento Abreviado de Qualidade de Vida da Organização Mundial de Saúde (WHOQOL-Breve) para a capacidade da trabalho o Índice da Capacidade de Trabalho (ICT). Foram realizados testes estatísticos e correlação de Pearson.
Resultados: O ICT foi classificado como excelente (80%) e boa (20%), com valor médio de 45,22 (±2,97). Os escores do WHOQOL-Breve para a QV nos respectivos domínios foram: 84,44 para o Físico, 80,00 para o Psicológico, 84,07 para Relações Sociais e 61,81 para Ambiente; apresentando um valor médio de 76,30 (±9,14) para os escores em uma escala de 0-100. No estudo de correlações estatisticamente significativas, observou-se uma melhor associação no domínio Físico (r = 0,63; p<0,01), em relação ao ICT, seguido pelo Psicológico (r = 0,56; p<0,01).
Conclusões: Observou-se que a capacidade para o trabalho foi significativamente associada com a percepção de QV dos trabalhadores estudados, obtendo-se médias elevadas em ambos os índices.
Palavras-chave: Qualidade de vida. Capacidade para o trabalho. Saúde do trabalhador.

ABSTRACT:

Objective: This study aimed to evaluate and compare the quality of life and ability to work.
Methods: Participants were 45 workers, all male with a mean age of 26.4 ± 7.74 years. To this end, we applied the Abbreviated Instrument for Quality of Life (QOL) of the World Health Organization (WHOQOL-Bref) and Work Ability Index (WAI).
Results: The WAI was rated as excellent (80%) and good (20%), with a mean value of 45.22 (± 2.97). The scores of the WHOQOL-Brief for QOL in their respective fields were: 84.44 for the Physical, 80.00 for the Psychological, Social Relations and 84.07 to 61.81 for Environment, with an average value of 76.30 (± 9.14) for scores on a 0-100 scale. In the study of correlations statistically significant, there was a better association in the physical domain (r = 0.63, p <0.01) in relation to WAI, followed by psychological (r = 0.56, p <0.01).
Conclusions: In conclusion, we observed high average capacity for work, and 80% were rated as excellent. The results indicate that the ability to work was significantly associated with perceived quality of life in workers having studied strongest association in the physical domain. It is hoped that the results presented can contribute to improvements in preventive work environment, especially those aspects related to the physical domain.
Keywords: Quality of Life. Ability to Work. Worker health.

1. Introdução

As medidas de intervenção para a promoção da saúde e prevenção de doenças ocupacionais são aspectos essenciais na manutenção da capacidade para o trabalho, podendo apresentar grande impacto econômico ao promoverem condições favoráveis ao trabalho, diminuindo assim a incapacidade e aposentadoria precoce.

Para Bellusci e Fischer (1999) a capacidade de trabalho pode sofrer influências de vários fatores, incluindo as condições de trabalho, condições de saúde, acidentes relacionados ao trabalho e estilo de vida.

Segundo Mazloumiet al.(2012) a capacidade para o trabalho subentende-se como um conceito múltiplo, não só associado a saúde, mas ligada também a competencia, os valores, o ambiente de trabalho e as relações sociais.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a qualidade de vida (QV) como "a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (FLECK et al., 2000).

Batista (2010) mostra em seus estudos que a qualidade de vida no trabalho além de envolver a produtividade e competitividade precisa alienar, junto a estas diretrizes organizacionais, o bem estar dos colaboradores. Não deve cuidar apenas de saúde ocupacional ou acidentes de trabalho mas sim do ambiente funcional que o trabalhador está disposto e o reflexo deste ambiente na vida pessoal do mesmo.

Sörensen, et al. (2008) expoe que a promoção da capacidade para o trabalho também pode influenciar na qualidade de vida Existe uma estreita relação entre capacidade percebida para o trabalho e qualidade de vida de indivíduos empregados em atividades fisicamente exigentes. Mostra ainda que os recursos individuais e competência profissional podem ter mais potencial no aumento da capacidade para o trabalho.

Considerando as questões apresentadas, este estudo teve por objetivo avaliar, comparativamente, a capacidade para o trabalho e a qualidade de vida em trabalhadores do setor de produção de uma empresa de porte médio.

2. Metodologia

Trata-se de uma pesquisa de caráter transversal, a amostra foi constituída de 45 indivíduos, utilizando-se apenas os trabalhadores responsáveis pelo processo de produção em uma empresa de porte médio, situada no interior do estado do Paraná, responsável pela fabricação de fios e cabos elétricos.

Os sujeitos da pesquisa foram abordados de forma intencional, e informados sobre os procedimentos utilizados referentes à execução do estudo, condicionando uma participação voluntária, concordando com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Instrumentos e Variáveis

Para análise da qualidade de vida foi utilizado o questionário WHOQOL-Breve, desenvolvido pelo Grupo de Qualidade de Vida da Organização Mundial de Saúde. O WHOQOL-Breve é composto de 26 questões, divididos por quatro domínios: físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente. Foi utilizado o software Microsoft Excel, para a realização do cálculo dos escores e estatística descritiva do WHOQOL-bref.

Para avaliar a capacidade de trabalho do individuo, foi aplicado o questionário Índice da Capacidade de Trabalho (ICT), desenvolvido pelo Instituto de Saúde Ocupacional da Finlândia. O ICT tem por base a auto-percepção dos trabalhadores em relação à sua capacidade para o trabalho, tendo em conta as exigências físicas e mentais do trabalho bem como o estado de saúde e os recursos psicológicos do trabalhador. O cálculo é feito pela soma dos pontos atribuídos as respostas e pode variar entre 7 e 49 pontos, sendo categorizado em quatro níveis: “pobre” (7- 27 pontos), “moderada” (28-36 pontos), “boa” (37-43 pontos) e “excelente” (44-49 pontos).

Análise estatística

A análise foi feita por meio de estatística descritiva dos dados, utilizando moda e média, valores mínimos e máximos, com distribuição de frequência e percentual através de tabelas e gráficos. Os dados foram tratados com o programa estatístico SPSS versão 18.0. Para verificar a associação entre os índices do ICT e os escores do WHOQOL-Breve, foi aplicado o teste de correlação de Pearson.

3. Resultados e Discussão

Os 45 indivíduos eram trabalhadores do setor de produção, sendo a carga horária de cada trabalhador era de 8 horas por dia. A faixa etária dos trabalhadores foi de 26,4 (± 7,74 anos). O nivel de escolaridade da maioria foi ensino médio completo, com tempo médio de trabalho na empresa de 15 meses.

Com base nos índices do ICT, identificou-se que a maior parte dos empregados apresentou capacidade excelente (80%) ou boa (20%). Em uma escala que vai de 7-49, obteve-se um valor médio de 45,22 (±2,97), para a capacidade para o trabalho no grupo em questão. A tabela 1 apresenta os valores de média, desvio padrão, valores mínimos e máximos referentes às esferas do ICT.

Tabela 1. Valores médios e desvio padrão, valores mínimos e máximos dos escores das esferas de ICT.

Esferas do ICT

Média

d.p.

Mínimo

Máximo

Escores das respostas

Capacidade atual para o trabalho

8,9

0,9

7

10

0 - 10

Exigências físicas e mentais

8,8

1,1

3

10

2 - 10

Doenças diagnosticadas

6,3

1,2

3

7

1 - 7

Incapacidade para o trabalho

5,8

0,5

4

6

1 - 6

Absenteísmo

4,8

0,5

3

5

1 - 5

Prognóstico próprio

6,6

1,2

4

7

1 - 4 - 7

Recursos mentais

3,8

0,4

1

4

1 - 4

d.p.= Desvio Padrão

Um estudo realizado por Beltrame (2009), avaliando a capacidade de trabalho em trabalhadores de uma metalúrgica, mostrou que 56,3 % dos trabalhadores foram classificados como capacidade excelente para o trabalho, com uma média geral de 43,7 pontos. Lin et al.(2005), analisando a capacidade para o trabalho em trabalhadores do oeste da China, obteve uma média de 38,6.

Com base nos estudos realizados por Mazloumiet al.(2012) com 420 trabalhadores de uma indústria petroquímica no Irã, a média do escore do ICT foi de 39,1. De acordo com a categoria, os participantes foram classificados como 38,6% moderado, 32,9% boa, 27,1% e 1,4% como excelente e pobre, respectivamente.

Martinez et al. (2009), em estudo realizado em uma empresa do Setor Elétrico, com 582 trabalhadores, apresentou como média do ICT de 41,8 (DP = 5,1) pontos, sendo que 25,1% dos trabalhadores foram categorizados como capacidade para o trabalho excelente.

Um dos fatores que podem ter influenciado esse resultado, pode estar relacionado a baixa média de idade entre os trabalhadores. Lin et al.(2005), analisando a capacidade para o trabalho em trabalhadores do oeste da China, obteve uma média de 38,6. Em seu estudo pode constatar que em trabalhadores com faixa etária mais baixa, o ICT tinha niveis mais elevados.

Algumas questões vêm sendo levantadas a respeito da capacidade para o trabalho. Determinantes como aspectos socio-demográficos, estilo de vida, saúde e trabalho, são apontadas como influenciadores da capacidade para o trabalho. Aumento na produtividade e aumento na eficiência no trabalho e redução de absenteísmo tem sido notado com a melhoria da capacidade para o trabalho (MARTINEZ, et al.,2010).

Em relação à QV, um valor médio de 76,30 (±9,14) foi identificado para os escores em uma escala de 0-100. Os escores de WHOQOL-Breve identificados nos respectivos domínios foram: 84,44 para o Físico, 80,00 para o Psicológico, 84,07 para Relações Sociais e 61,81 para Ambiente, conforme apresentados na Figura 1.

Figura 1 - Escores dos respectivos domínios do WHOQOL-Breve.

Em relação aos domínios de QV, o ICT mostrou melhor correlação significativa no Físico (r = 0,63), seguido pelo Psicológico (r = 0,56), Ambiente (r = 0,45) e Relações Sociais (r = 34). Somente a correlação com o domínio Relações Sociais teve significância com valor de p<0,05, todas as demais correlações descritas foram significativas em nível de p<0,01.

Podemos observar que o dominio Físico melhor se correlacionou com o ICT, mostrando que uma percepção de uma boa capacidade para o trabalho pode sugerir uma boa capacidade física. A baixa correlação entre o domínio Ambiente pode ser explicado devido o fato de trabalharem em um ambiente físico com alto índice de barulho e ruídos sonoros provindos das máquinas.

Da Costa et al. (2012), em estudo com 100 trabalhadores do setor produtivo de uma empresa produtora de materiais escolares e para escritório, apontou um valor médio de 66,52 para os escores de QV. Os escores de WHOQOL-Breve identificados no estudo nos respectivos domínios foram: 69,40 para o Físico, 68,91 para o Psicológico, 71,96 para Relações Sociais e 55,79 para Ambiente. Dentre os domínios de QV, o ICT mostrou correlação significativa mais forte no Físico (r = 0,61), seguido pelo Psicológico (r = 0,44), Relações Sociais (r = 0,42) e Ambiente (0,32).

Em estudo já citado de Beltrame (2009), os escores do WHOQOL-Breve em relação aos seus domínios foram de 81,8 para o Físico, 77,9 para o psicológico, 65,9 para Relações Sociais e 79 para o Ambiente. Observou-se uma baixa associação entre o ICT e os domínios Físico (r = 0,19) e Psicológico (r= 0,20).

Uma revisão sobre os efeitos de fatores relacionados ao trabalho e ao indivíduo no ICT, afirma que os fatores relacionados à satisfação na vida e à capacidade para o trabalho parecem possuir uma relação interativa e mútua, sendo determinados conjuntamente (VAN DEN BERG et al., 2009).

4. Conclusão

Concluindo, observou médias elevadas de capacidade para o trabalho, sendo que 80% foram classificados como excelentes. Em relação aos escores do WHOQOL-Bref apresentou-se uma média de 76,30. Os resultados indicam que a capacidade para o trabalho foi significativamente associada com a percepção de qualidade de vida nos trabalhadores.

Podemos observar que o dominio Físico melhor se correlacionou com o ICT, mostrando que uma percepção de uma boa capacidade para o trabalho pode sugerir uma boa capacidade física. A baixa correlação entre o domínio Ambiente pode ser explicado devido o fato de trabalharem em um ambiente físico com alto índice de barulho e ruídos sonoros provindos das máquinas.

No entanto, vê-se a necessidade de adotar medidas preventivas aos aspectos ligados ao fator Físico, principalmente em ambiente de trabalho, de forma a possibilitar um melhor nível de satisfação no trabalho, afetando também de forma indireta a saúde mental e física dos trabalhadores.

      

Referências

BATISTA, Álamo A. S. Análise da qualidade de vida no trabalho utilizando um modelo de regressão logística. 2010. 89 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Ponta Grossa, 2010.

BELLUSCI, S. M; FISCHER, F. M. Envelhecimento funcional e condições de trabalho em servidores forenses. Revista Saúde Pública, São Paulo, v. 33, n. 6, p. 602-9, 1999.

BELTRAME, M. R. S. Capacidade de trabalho e qualidade de vida em trabalhadores de indústria. Dissertação (Mestrado em Medicina) – Programa de Pós-Graduação em Medicina: Ciências Médicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.

DA COSTA, C. S. N; FREITAS, E. G; MENDONÇA, L. C. S; ALEM, M. E. R; COURY, H. J. C. G. Capacidade para o trabalho e qualidade de vida de trabalhadores industriais. Ciência & Saúde Coletiva, v.17, n. 6, p. 1635-1642, 2012.

FISCHER, F. M. Breve histórico desta tradução. In: Tuomi et AL. Índice de capacidade para o trabalho. Trad. De Fischer FM. São Carlos: EdUFScar, 2005.

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ILMARINEN, J. The Work Ability Index (WAI). Occupational Medicine, v. 57, n. 2, p. 160, 2007.

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1. Mestranda do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Desenvolvimento Comunitário - Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO – Irati – Brasil - marcela_moraes18@hotmail.com

2. Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Metodista de Piracicaba, Brasil, Professor Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Desenvolvimento Comunitário da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro em Irati - PR., Brasil.  e-mail: eriveltonlaat@hotmail.com

3. Mestrando do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Desenvolvimento Comunitário - Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO – Irati – Brasil -  jorge_basquete@hotmail.com


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