Vol. 38 (Nº 21) Año 2017. Pág. 25
Marcela de MORAES 1; Erivelton Fontana DE LAAT 2; Jorge Willian Pedroso SILVEIRA 3
Recibido: 09/12/16 • Aprobado: 23/12/2016
RESUMO: Objetivo: O objetivo deste estudo foi avaliar, comparativamente, a capacidade para o trabalho e a qualidade de vida (QV) em trabalhadores do setor de produção de uma empresa de porte médio. |
ABSTRACT: Objective: This study aimed to evaluate and compare the quality of life and ability to work. |
As medidas de intervenção para a promoção da saúde e prevenção de doenças ocupacionais são aspectos essenciais na manutenção da capacidade para o trabalho, podendo apresentar grande impacto econômico ao promoverem condições favoráveis ao trabalho, diminuindo assim a incapacidade e aposentadoria precoce.
Para Bellusci e Fischer (1999) a capacidade de trabalho pode sofrer influências de vários fatores, incluindo as condições de trabalho, condições de saúde, acidentes relacionados ao trabalho e estilo de vida.
Segundo Mazloumiet al.(2012) a capacidade para o trabalho subentende-se como um conceito múltiplo, não só associado a saúde, mas ligada também a competencia, os valores, o ambiente de trabalho e as relações sociais.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a qualidade de vida (QV) como "a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (FLECK et al., 2000).
Batista (2010) mostra em seus estudos que a qualidade de vida no trabalho além de envolver a produtividade e competitividade precisa alienar, junto a estas diretrizes organizacionais, o bem estar dos colaboradores. Não deve cuidar apenas de saúde ocupacional ou acidentes de trabalho mas sim do ambiente funcional que o trabalhador está disposto e o reflexo deste ambiente na vida pessoal do mesmo.
Sörensen, et al. (2008) expoe que a promoção da capacidade para o trabalho também pode influenciar na qualidade de vida Existe uma estreita relação entre capacidade percebida para o trabalho e qualidade de vida de indivíduos empregados em atividades fisicamente exigentes. Mostra ainda que os recursos individuais e competência profissional podem ter mais potencial no aumento da capacidade para o trabalho.
Considerando as questões apresentadas, este estudo teve por objetivo avaliar, comparativamente, a capacidade para o trabalho e a qualidade de vida em trabalhadores do setor de produção de uma empresa de porte médio.
Trata-se de uma pesquisa de caráter transversal, a amostra foi constituída de 45 indivíduos, utilizando-se apenas os trabalhadores responsáveis pelo processo de produção em uma empresa de porte médio, situada no interior do estado do Paraná, responsável pela fabricação de fios e cabos elétricos.
Os sujeitos da pesquisa foram abordados de forma intencional, e informados sobre os procedimentos utilizados referentes à execução do estudo, condicionando uma participação voluntária, concordando com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Para análise da qualidade de vida foi utilizado o questionário WHOQOL-Breve, desenvolvido pelo Grupo de Qualidade de Vida da Organização Mundial de Saúde. O WHOQOL-Breve é composto de 26 questões, divididos por quatro domínios: físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente. Foi utilizado o software Microsoft Excel, para a realização do cálculo dos escores e estatística descritiva do WHOQOL-bref.
Para avaliar a capacidade de trabalho do individuo, foi aplicado o questionário Índice da Capacidade de Trabalho (ICT), desenvolvido pelo Instituto de Saúde Ocupacional da Finlândia. O ICT tem por base a auto-percepção dos trabalhadores em relação à sua capacidade para o trabalho, tendo em conta as exigências físicas e mentais do trabalho bem como o estado de saúde e os recursos psicológicos do trabalhador. O cálculo é feito pela soma dos pontos atribuídos as respostas e pode variar entre 7 e 49 pontos, sendo categorizado em quatro níveis: “pobre” (7- 27 pontos), “moderada” (28-36 pontos), “boa” (37-43 pontos) e “excelente” (44-49 pontos).
A análise foi feita por meio de estatística descritiva dos dados, utilizando moda e média, valores mínimos e máximos, com distribuição de frequência e percentual através de tabelas e gráficos. Os dados foram tratados com o programa estatístico SPSS versão 18.0. Para verificar a associação entre os índices do ICT e os escores do WHOQOL-Breve, foi aplicado o teste de correlação de Pearson.
Os 45 indivíduos eram trabalhadores do setor de produção, sendo a carga horária de cada trabalhador era de 8 horas por dia. A faixa etária dos trabalhadores foi de 26,4 (± 7,74 anos). O nivel de escolaridade da maioria foi ensino médio completo, com tempo médio de trabalho na empresa de 15 meses.
Com base nos índices do ICT, identificou-se que a maior parte dos empregados apresentou capacidade excelente (80%) ou boa (20%). Em uma escala que vai de 7-49, obteve-se um valor médio de 45,22 (±2,97), para a capacidade para o trabalho no grupo em questão. A tabela 1 apresenta os valores de média, desvio padrão, valores mínimos e máximos referentes às esferas do ICT.
Tabela 1. Valores médios e desvio padrão, valores mínimos e máximos dos escores das esferas de ICT.
Esferas do ICT |
Média |
d.p. |
Mínimo |
Máximo |
Escores das respostas |
Capacidade atual para o trabalho |
8,9 |
0,9 |
7 |
10 |
0 - 10 |
Exigências físicas e mentais |
8,8 |
1,1 |
3 |
10 |
2 - 10 |
Doenças diagnosticadas |
6,3 |
1,2 |
3 |
7 |
1 - 7 |
Incapacidade para o trabalho |
5,8 |
0,5 |
4 |
6 |
1 - 6 |
Absenteísmo |
4,8 |
0,5 |
3 |
5 |
1 - 5 |
Prognóstico próprio |
6,6 |
1,2 |
4 |
7 |
1 - 4 - 7 |
Recursos mentais |
3,8 |
0,4 |
1 |
4 |
1 - 4 |
d.p.= Desvio Padrão
Um estudo realizado por Beltrame (2009), avaliando a capacidade de trabalho em trabalhadores de uma metalúrgica, mostrou que 56,3 % dos trabalhadores foram classificados como capacidade excelente para o trabalho, com uma média geral de 43,7 pontos. Lin et al.(2005), analisando a capacidade para o trabalho em trabalhadores do oeste da China, obteve uma média de 38,6.
Com base nos estudos realizados por Mazloumiet al.(2012) com 420 trabalhadores de uma indústria petroquímica no Irã, a média do escore do ICT foi de 39,1. De acordo com a categoria, os participantes foram classificados como 38,6% moderado, 32,9% boa, 27,1% e 1,4% como excelente e pobre, respectivamente.
Martinez et al. (2009), em estudo realizado em uma empresa do Setor Elétrico, com 582 trabalhadores, apresentou como média do ICT de 41,8 (DP = 5,1) pontos, sendo que 25,1% dos trabalhadores foram categorizados como capacidade para o trabalho excelente.
Um dos fatores que podem ter influenciado esse resultado, pode estar relacionado a baixa média de idade entre os trabalhadores. Lin et al.(2005), analisando a capacidade para o trabalho em trabalhadores do oeste da China, obteve uma média de 38,6. Em seu estudo pode constatar que em trabalhadores com faixa etária mais baixa, o ICT tinha niveis mais elevados.
Algumas questões vêm sendo levantadas a respeito da capacidade para o trabalho. Determinantes como aspectos socio-demográficos, estilo de vida, saúde e trabalho, são apontadas como influenciadores da capacidade para o trabalho. Aumento na produtividade e aumento na eficiência no trabalho e redução de absenteísmo tem sido notado com a melhoria da capacidade para o trabalho (MARTINEZ, et al.,2010).
Em relação à QV, um valor médio de 76,30 (±9,14) foi identificado para os escores em uma escala de 0-100. Os escores de WHOQOL-Breve identificados nos respectivos domínios foram: 84,44 para o Físico, 80,00 para o Psicológico, 84,07 para Relações Sociais e 61,81 para Ambiente, conforme apresentados na Figura 1.
Figura 1 - Escores dos respectivos domínios do WHOQOL-Breve.
Em relação aos domínios de QV, o ICT mostrou melhor correlação significativa no Físico (r = 0,63), seguido pelo Psicológico (r = 0,56), Ambiente (r = 0,45) e Relações Sociais (r = 34). Somente a correlação com o domínio Relações Sociais teve significância com valor de p<0,05, todas as demais correlações descritas foram significativas em nível de p<0,01.
Podemos observar que o dominio Físico melhor se correlacionou com o ICT, mostrando que uma percepção de uma boa capacidade para o trabalho pode sugerir uma boa capacidade física. A baixa correlação entre o domínio Ambiente pode ser explicado devido o fato de trabalharem em um ambiente físico com alto índice de barulho e ruídos sonoros provindos das máquinas.
Da Costa et al. (2012), em estudo com 100 trabalhadores do setor produtivo de uma empresa produtora de materiais escolares e para escritório, apontou um valor médio de 66,52 para os escores de QV. Os escores de WHOQOL-Breve identificados no estudo nos respectivos domínios foram: 69,40 para o Físico, 68,91 para o Psicológico, 71,96 para Relações Sociais e 55,79 para Ambiente. Dentre os domínios de QV, o ICT mostrou correlação significativa mais forte no Físico (r = 0,61), seguido pelo Psicológico (r = 0,44), Relações Sociais (r = 0,42) e Ambiente (0,32).
Em estudo já citado de Beltrame (2009), os escores do WHOQOL-Breve em relação aos seus domínios foram de 81,8 para o Físico, 77,9 para o psicológico, 65,9 para Relações Sociais e 79 para o Ambiente. Observou-se uma baixa associação entre o ICT e os domínios Físico (r = 0,19) e Psicológico (r= 0,20).
Uma revisão sobre os efeitos de fatores relacionados ao trabalho e ao indivíduo no ICT, afirma que os fatores relacionados à satisfação na vida e à capacidade para o trabalho parecem possuir uma relação interativa e mútua, sendo determinados conjuntamente (VAN DEN BERG et al., 2009).
Concluindo, observou médias elevadas de capacidade para o trabalho, sendo que 80% foram classificados como excelentes. Em relação aos escores do WHOQOL-Bref apresentou-se uma média de 76,30. Os resultados indicam que a capacidade para o trabalho foi significativamente associada com a percepção de qualidade de vida nos trabalhadores.
Podemos observar que o dominio Físico melhor se correlacionou com o ICT, mostrando que uma percepção de uma boa capacidade para o trabalho pode sugerir uma boa capacidade física. A baixa correlação entre o domínio Ambiente pode ser explicado devido o fato de trabalharem em um ambiente físico com alto índice de barulho e ruídos sonoros provindos das máquinas.
No entanto, vê-se a necessidade de adotar medidas preventivas aos aspectos ligados ao fator Físico, principalmente em ambiente de trabalho, de forma a possibilitar um melhor nível de satisfação no trabalho, afetando também de forma indireta a saúde mental e física dos trabalhadores.
BATISTA, Álamo A. S. Análise da qualidade de vida no trabalho utilizando um modelo de regressão logística. 2010. 89 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Ponta Grossa, 2010.
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1. Mestranda do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Desenvolvimento Comunitário - Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO – Irati – Brasil - marcela_moraes18@hotmail.com
2. Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Metodista de Piracicaba, Brasil, Professor Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Desenvolvimento Comunitário da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro em Irati - PR., Brasil. e-mail: eriveltonlaat@hotmail.com
3. Mestrando do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Desenvolvimento Comunitário - Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO – Irati – Brasil - jorge_basquete@hotmail.com