ISSN 0798 1015

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Vol. 39 (Nº 23) Ano 2018. Pág. 4

Programa Ensino Médio Inovador: Uma oportunidade de (re)significar o processo de ensino e aprendizagem

Innovative High School Program: An opportunity to (re)signify the teaching and learning process

UMarta Burda SCHASTAI 1; Joana D´Arc Aparecida FERREIRA 2; Lurdes THOMAZ 3

Recebido: 28/01/2018 • Aprovado: 22/02/2018


Conteúdo

1. Introdução

2. Metodologia

3. Resultados

4. Conclusões

Referências bibliográficas


RESUMO:

Esse artigo tem como objetivo discorrer a respeito do Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI) e a implantação no Colégio Estadual Linda Salamuni Bacila. Para tanto apresentamos as diretrizes do Ensino Médio e as diretrizes norteadoras do ProEMI. Na sequência descrevemos os Campos de Integração Curricular: Acompanhamento Pedagógico Língua Portuguesa e Matemática; Iniciação Científica e Pesquisa; Mundo do Trabalho; Protagonismo; Língua Estrangeira Moderna e Cultura Corporal e respectivas ações. Concluímos que o Programa dinamiza o trabalho pedagógico e oportuniza o Protagonismo.
Palavras chiave: Programa Ensino Médio Inovador. Protagonismo. Trabalho Pedagógico

ABSTRACT:

This article aims to discuss the Higher Education and Innovation Program (ProEMI) and the implementation at Linda Salamuni Bacila State College. For this, we present the guidelines of the High School and the guiding directives of ProEMI. In the sequence we describe the Fields of Curriculum Integration: Pedagogical Accompaniment Portuguese Language and Mathematics; Scientific Initiation and Research; World of Work; Protagonism; Modern Foreign Language and Body Culture and their actions. We conclude that the Program dynamizes the pedagogical work and opportunizes the Protagonism.
Keywords: Innovative High School Program. Protagonism. Pedagogical work.

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1. Introdução

1.1. Ensino Médio: Aspectos Legais

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996, em seu artigo 22, a Educação Básica que tem por finalidade “desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores”.

O Ensino Médio regular noturno está inserido nesse contexto e é objeto de estudo do presente artigo. Essa modalidade de ensino tem duração mínima de três anos e 2.400 (duas mil e quatrocentas horas) distribuídas em 200 dias letivos ou 800 horas. Deve levar em consideração o estudante trabalhador adequando o currículo, os métodos de ensino, horários de entrada e saída, enfim, proporcionando um ambiente escolar favorável à permanência e o sucesso dos alunos. As disciplinas devem ser trabalhadas de forma integrada, com atividades teórico/práticas contextualizadas, de forma que o estudante possa desfrutar de uma aprendizagem com significado e menos fragmentada possível (Resolução CNE/CEB/2, 2012).

A LDB – Lei 9394/96, em seu artigo 35, delimita as finalidades do Ensino Médio:

 I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;

II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;

III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;

IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina.

O Projeto Político Pedagógico da Instituição de Ensino deve ser construído de forma coletiva, avaliado periodicamente e redimensionado no intuito de contemplar e garantir ao Ensino Médio “as dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura” (Resolução CNE/CEB/2, 2012, p.6). As dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura constituem o alicerce do Projeto Político Pedagógico do Colégio.

Ainda, de acordo com as Diretrizes Curriculares Estaduais, na dinâmica de ensino, devem ser utilizadas “metodologias que priorizem diferentes formas de ensinar, de aprender e de avaliar” (PARANÁ, 2008, p.19) de forma que a escola se constitua em um “espaço de confronto e diálogo entre os conhecimentos sistematizados e os conhecimentos do cotidiano popular” (PARANÁ, 2008, p.21).

Apesar do respaldo encontrado na Lei de Diretrizes e Bases LDB-9394/96, na Resolução que define Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio e nas Diretrizes Curriculares Estaduais, ou seja, na legislação que regulamenta o Ensino Médio para uma formação integral do estudante nessa modalidade de ensino, os recursos financeiros, a estrutura física e organizacional  como se apresenta no contexto das instituições públicas de ensino dificilmente favorecem o trabalho interdisciplinar, a iniciação científica, uma dinâmica de ensino que permita ao estudante uma visão ampla do mundo do trabalho, uma formação humana. A expressão humana está no sentido de humanização, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico.

O que temos é um ensino direcionado para os conteúdos das disciplinas que fazem parte da grade curricular e, muitas vezes, voltado para a memorização de conceitos, definições, algoritmos e não na elaboração do conhecimento pelo estudante a partir de seus conhecimentos para uma aprendizagem significativa e duradoura.

De um lado, no Ensino Médio noturno, temos uma parcela de jovens trabalhadores que vêm o ensino noturno como única possibilidade de escolarização – de melhoria da qualidade de vida. De outro, jovens que poderiam estudar no período diurno, frequentam o período noturno porque a rede pública de ensino não consegue atender toda essa demanda no período diurno, tem-se assim uma “falsa liberdade de escolha”, para um público mais vulnerável – sem opções de escolha.

O problema é que os alunos do período noturno não têm encontrado a mesma estrutura do aluno do período diurno, tanto no quesito segurança -  iluminação externa adequada, acesso ao transporte de qualidade, quanto nos encaminhamentos metodológicos, nas práticas de ensino e aprendizagem.

1.2. Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI)

O ProEMI foi criado por meio da Portaria Ministerial número 971 de 09 de outubro de 2009 do Ministério da Educação. Atualmente é regido pela Resolução Número 4 do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE de 25 de outubro de 2016. Tem como objetivo apoiar e fortalecer os Sistemas de Ensino Estaduais e Distrital com vistas a um redesenho da Proposta Curricular para o Ensino Médio das instituições de Ensino, na elaboração de propostas curriculares mais dinâmicas e flexíveis que favoreçam uma aprendizagem com sentido.

Na proposta de Redesenho Curricular (PRC) poderão ser considerados oito Campos de Integração Curricular (CIC): Acompanhamento Pedagógico Língua Portuguesa e Matemática; Iniciação Científica e Pesquisa; Mundo do Trabalho; Línguas Estrangeiras; Cultura Corporal; Produção e Fruição das Artes; Comunicação, Uso de Mídias e Cultura Digital; Protagonismo Juvenil. São quatro Campos obrigatórios: Acompanhamento Pedagógico Língua Portuguesa e Matemática; Iniciação Científica e Pesquisa; Mundo do Trabalho e Protagonismo Juvenil ficando a critério da Instituição de Ensino, a escolha, de mais um Campo de Integração Curricular.

A Instituição de Ensino tem autonomia na elaboração da proposta de trabalho dentro dos Campos de Integração Curricular. Em reunião, os professores das turmas de Ensino Médio, definem o que será trabalhado em cada Campo de Integração, o método utilizado, o período em que as “tarefas” serão desenvolvidas, os recursos humanos e financeiros que serão necessários. Essas Propostas de Trabalho são encaminhadas para as Secretarias de Educação para análise, podendo estas serem aprovadas em sua totalidade, parcialmente ou não aprovadas. Se forem aprovadas pelas Secretarias de Educação são enviadas para o MEC que dá o parecer final quanto a viabilidade ou não.  Lembrando que, “as Propostas de Redesenho Curricular (PRC) deverão atender às reais necessidades das unidades escolares, promovendo melhorias significativas no currículo” ainda “garantindo o direito à aprendizagem e ao desenvolvimento dos alunos, reconhecendo as especificidades regionais e atendendo as concepções curriculares implementadas pelas redes de ensino” (Documento Orientador 2016/2017, p. 4).

São disponibilizados recursos financeiros para implementação do ProEMI por meio do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) para aquisição de materiais de consumo, de equipamentos, mobílias e contratação de serviços, por meio de um Plano de Aplicação elaborado pelas Instituições de Ensino aprovado e acompanhado pelos Conselhos Escolares e Associações de Pais, Mestres e Funcionários (APMF´s) e gerenciado pelas APMF´s.

1.3. Cracterização do Colégio

O Colégio Estadual Professora Linda Salamuni Bacila Ensino Fundamental e Médio está localizado no município de Ponta Grossa, Estado do Paraná. Tem como entidade mantenedora o Governo do Estado do Paraná e é administrado pela Secretaria de Estado de Educação.

A população no entorno da escola é composta por trabalhadores na metalurgia, comércio, indústrias e trabalhadores informais (pedreiros, serventes, eletricistas e outros) com pouca escolaridade. A maioria dos pais dos alunos não concluiu a Educação Básica. No que se refere aos salários das famílias, a remuneração média é de três salários mínimos, tendo um percentual bem significativo de famílias com uma renda familiar de até um salário mínimo.

No período noturno, no ano de 2017, estão matriculados 141 alunos no Ensino Médio, distribuídos em cinco turmas: duas de primeira série, duas de segunda série e uma de terceira série. Aproximadamente 30% dos alunos são trabalhadores com empregos formais e aproximadamente 10% tem afazeres pré-definidos nas famílias, o que denota que a maioria tem disponibilidade para o estudo diurno. O problema é a falta de estrutura física para atender essa demanda no diurno.

Se de um lado, a situação de matrículas no período noturno de adolescentes que não ingressaram no mercado de trabalho ou em programas de qualificação e estágios não é algo desejável, de outro favoreceu a implementação das ações previstas no ProEMI. Mesmo sem ampliação da jornada de estudo no ambiente escolar as ações oportunizaram aos alunos continuarem estudando para além do espaço escolar.

2. Metodologia

Na proposta de Redesenho Curricular (PRC) do Colégio Estadual Professora Linda Salamuni Bacila foram contemplados seis Campos de Integração Curricular sendo eles: Acompanhamento Pedagógico Língua Portuguesa e Matemática; Iniciação Científica e Pesquisa; Mundo do Trabalho; Protagonismo; Língua Estrangeira Moderna e Cultura Corporal.

As Propostas de Trabalho foram assim organizadas:

2.1. Acompanhamento Pedagógico

Língua Portuguesa: Atividade Hora da Leitura – uma aula semanal destinada a leituras. Entre os textos de leitura, estão: fábulas, poemas, histórias em quadrinhos, textos informativos, entrevistas, artigos de opinião, crônicas, contos, charges, tirinhas. Nessa ação todos os professores estão envolvidos.

Matemática: “Vai-e-vem” é uma forma de trabalho que favorece a comunicação escrita do professor com o aluno possibilitando a regulação do processo de ensino e aprendizagem por meio da problematização, da pesquisa, do estudo. Na disciplina de Matemática, o professor elabora/seleciona um problema não rotineiro que todos os alunos consigam resolvê-lo. Uma característica desse tipo de problema reside no fato de que ele pode ser resolvido com o uso de diferentes conhecimentos matemáticos de acordo com o nível em que os alunos se encontram. Nos procedimentos de resolução podem aparecer esquemas, cálculos numéricos com tentativas de acerto, expressões/equações algébricas, gráficos, explicações. Cada aluno poderá resolvê-lo com o instrumental matemático que possui no momento de sua resolução.

Em síntese, na primeira semana o envelope com as tarefas vai para a casa do aluno com questões para serem por ele pensadas e respondidas e volta para as mãos do professor que faz as intervenções na segunda semana. Essa dinâmica se repete. Cada aluno passa a ter “tarefas” diferentes, tarefas essas baseadas nas respostas anteriores.

2.2. Iniciação Científica e Pesquisa: Feira do conhecimento.

Essa atividade engloba Protagonismo Juvenil, Línguas Estrangeiras, Cultura Corporal e Acompanhamento Pedagógico. O município de Ponta Grossa foi o tema escolhido para a pesquisa. Cada turma escolheu subtemas, entre eles: Estudo da Escarpa Devoniana, Operário Ferroviário Esporte Clube, pontos turísticos, Expoflor, Histórico do Colégio e do bairro, expressões linguísticas típicas, culinária, músicos e poetas pontagrossenses, Estação Saudade. Os professores participaram dessa atividade, contribuindo na orientação dos trabalhos.  Como culminância da pesquisa foram apresentados cartazes, maquetes, vídeos, powerpoint. Também contou com a participação de convidados: alguns jogadores do Operário Ferroviário, poetas e músicos.

2.3. Mundo do Trabalho

As ações estão articuladas com o Protagonismo Juvenil. Palestras com diferentes profissionais, dentre eles alguns ex-alunos que já estão atuando no mercado de trabalho como empresários, outros que atuam como jornalistas, professores, no serviço social, radiologistas, fisioterapeutas, técnicos de enfermagem. Visita orientada nas instituições de Ensino Superior. Participação na Feira das Profissões.

2.4. Protagonismo Juvenil

Ações articuladas com Acompanhamento Pedagógico - Língua Portuguesa e Mundo do Trabalho. Palestras com profissionais do jornalismo televisivo, impresso.

A atividade proposta foi a elaboração de um jornal por turma. Os temas propostos foram: primeiras séries Meio Ambiente e Sustentabilidade, segundas séries Protagonismo Juvenil e terceira série Mundo do Trabalho. Os gêneros contemplados nesse trabalho foram: charge, notícia, entrevista, artigo de opinião, música, debate, poema, reportagem. A produção final em forma de jornal impresso, cada aluno, professor e equipe gestora recebeu um exemplar. Também, a produção do jornal foi impressa em banners que ficaram expostos para a comunidade escolar no saguão do colégio.

2.5. Língua Estrangeira Moderna

Feira gastronômica dos países hispanohablantes, relacionando aos aspectos históricos, geográficos e econômicos. A culminância do trabalho foi por meio de cartazes, confecção de receitas, degustação, apresentações powerpoint, música, dança, apresentação de lendas.

2.6. Cultura Corporal

Articulado com Protagonismo Juvenil. Oficinas com profissionais e alunos do Curso de Enfermagem sobre índice de massa corpórea, glicemia, colesterol, higiene, combate ao sedentarismo, prevenção do câncer de mama. Torneios de esportes individuais e coletivos.

Festival de Artes: danças, curtametragens, vines, música - pesquisado e organizado pelos alunos em equipes e apresentado para todos os alunos, no saguão do colégio, em duas noites.

2.7. Dinâmica das atividades

Para a primeira ação, elaboração do Jornal Escrito, os alunos foram organizados em pequenos grupos. Cada grupo ficou sob orientação de um professor. Nessa dinâmica os alunos tiveram a oportunidade de trabalhar com diferentes colegas (para muitos deles essa foi a primeira oportunidade de trabalharem juntos). Os professores atuaram como orientadores dos trabalhos de um grupo de cada turma. Esse procedimento foi uma etapa importante para familiarização com essa dinâmica de trabalho.

Para a segunda ação - países hispanohablantes - os temas de pesquisa foram distribuídos pela professora espanhol e pela equipe pedagógica, culinária para as primeiras séries; localização dos países, bandeiras, significados das cores para as segundas séries e pontos turísticos, curiosidades para a terceira série. Os alunos realizaram as pesquisas, estudaram para além do espaço e tempo escolar.

Uma estudante de Ensino Médio de Barcelona – Espanha, passou o período de férias em Ponta Grossa - PR com o objetivo de fazer um estudo comparativo de como vive uma família de classe média espanhola e de como vive uma família de classe média brasileira. Ela participou da elaboração do trabalho contribuindo com aspectos da culinária e hábitos alimentares locais, do sistema de ensino, da língua espanhola.

Na terceira ação – Feira do Conhecimento – a partir do tema Ponta Grossa, os alunos se organizaram em grupos e escolheram subtemas para as pesquisas. Cada turma teve dois ou três professores orientadores. Houve uma ação dos alunos que extrapolou o tempo e o espaço escolar envolvendo a comunidade pontagrossense. Esta ação teve como ponto culminante a visitação ao Parque das Ciências Newton Freire Maia em Pinhais-PR.

Na quarta ação - Feira de Arte – os alunos se organizaram em grupos e escolheram os temas de pesquisa orientados por dois ou três professores responsáveis por cada turma. Alguns grupos convidaram pessoas da comunidade para participarem com oficinas e palestras. Outros grupos convidaram grupos de danças, capoeira.

3. Resultados

3.1. Participação dos Alunos

Em todas as ações os alunos deveriam apresentar o resultado de seus estudos para todos os seus colegas do período noturno. Na primeira ação as apresentações foram tímidas, os alunos não se sentiam confiantes e capazes de fazer uma apresentação que não fosse por meio da leitura.

Na segunda ação os alunos participaram ativamente das danças e da música e alguns grupos em suas apresentações já não faziam apenas leituras, e sim comentavam a respeito do estudo realizado. Percebemos que nessa ação já houve maior aprofundamento teórico e preocupação em como apresentar o resultado de seus estudos para os colegas.

Na terceira e a quarta ações, os alunos já conseguiram se organizar de forma mais autônoma no estudo, na elaboração de materiais e na apresentação.  Poucos foram os grupos que em suas apresentações utilizaram apenas a leitura do material que foi desenvolvido.

Houve o despontar de lideranças nos grupos com a participação efetiva de todos os componentes. As tarefas foram distribuídas democraticamente e o trabalho fluiu.

3.2. Participação dos Professores

Quando da elaboração da Proposta de Redesenho Curricular percebemos desconfiança, descrédito na fala de alguns professores. Entre as falas: “Não vai dar certo”, “Não sei trabalhar assim”, “Os alunos não vão participar”, “Vai atrapalhar os conteúdos da disciplina”.

Na primeira ação a participação da maioria dos professores foi tímida e de poucos ativa, demonstrando interesse nos trabalhos dos alunos, cuidado na orientação e com a escrita dos alunos. A produção escrita dos alunos foi de muitas idas e vindas para reestruturação e orientações adicionais com proposta de leitura de outros artigos, entrevistas, reportagens, fotorreportagens entre outros. Do nosso ponto de vista o resultado dessa ação causou certo desconforto em alguns professores.

Na segunda ação, a coordenação ficou sob responsabilidade das professoras de língua espanhola e da equipe pedagógica. Uma das atividades propostas foi a confecção das bandeiras. Essa atividade, embora orientada, teve de ser refeita por vários grupos – era um trabalho que considerado por alguns professores e alunos como sendo apenas uma tarefa a cumprir. A princípio, o nível de exigência não havia sido compreendido por todos. No entanto, na apresentação dos trabalhos, o resultado foi além do esperado. Os alunos se arriscaram mais. Os trabalhos foram elogiados por todos os professores. Essas duas primeiras ações foram decisivas para o envolvimento de todos os professores nas próximas ações.

Na terceira e quarta ações, a coordenação dos trabalhos ficou sob a responsabilidade dos professores das diferentes disciplinas. Os alunos se organizaram em equipes e os professores orientaram as ações. Na terceira ação sentimos maior envolvimento dos professores e mais qualidade nos trabalhos desenvolvidos.  Podemos afirmar alguns professores apresentaram mais disposição, o que levou alguns a utilizar em suas aulas outros métodos de ensino, inserindo pesquisas, seminários, debates como rotina das práticas em sala. Apesar da estrutura física precária conseguimos dinamizar as formas de trabalho.

4. Conclusões

É necessário que os alunos possam aprender a investigar por si mesmos enquanto aprendem algum conteúdo estudando “os produtos culturais e científicos da humanidade, seguindo o percurso dos processos de investigação, ou seja, reproduzindo o caminho investigativo percorrido para se chegar a esses produtos” (LIBÂNEO, 2004, p. 20).

Nessa perspectiva, durante o primeiro ano de implementação do Redesenho da Proposta Curricular, observamos:

- Que nos trabalhos coletivos correspondentes as ações um, dois, três e quatro tanto os alunos quanto os professores começaram timidamente ganhando confiança no decorrer dos trabalhos. Os alunos, na sua grande maioria, passaram da atitude de desenvolver o proposto para “cumprir uma tarefa” para uma atitude de pesquisa e investigação. Os professores demonstraram-se mais receptíveis a proposta com maior envolvimento no processo. Alguns inseriram, nas aulas regulares, atividades mais dinâmicas incluindo seminários, pesquisas, miniaulas. De acordo com Alonso (2003), apesar dos professores reconhecerem a necessidade de redimensionar seu trabalho e buscar outras bases de ensino há outros entraves que os impedem, tais como a formação, a organização do ensino.

- A Prova em fases de fazer em casa, uma forma de comunicação escrita, com objetivo de trabalhar um conhecimento matemático a partir do que o estudante fez, tornou se uma atividade que extrapolou o tempo e o espaço escolar, em alguns casos, envolvendo a família na resolução das tarefas propostas. O atendimento personalizado favoreceu a interação e ao mesmo tempo atendeu as necessidades particulares de cada estudante, dando a oportunidade aos mesmos de desenvolver “meios de aquisição de conceitos científicos e de desenvolvimento das capacidades cognitivas e operativas, dois elementos da aprendizagem escolar interligados e indissociáveis” (LIBÂNEO, 2004, p. 2).

- A proposta de apresentar os trabalhos para todas as séries, num espaço maior que a sala de aula foi essencial para o salto qualitativo nos trabalhos. A ação de realizar trabalhos passou a ter sentido e com isso o envolvimento dos alunos aumentou. Simultaneamente as conversas a respeito das atitudes de respeito durante as apresentações e de trabalho coletivo favoreceram o enfoque de formação humana, o agir e pensar de forma mais cidadã, no sentido de “ajudar os outros a se educarem, a serem pessoas dignas, justas, cultas, aptas a participar ativa e criticamente na vida social” (LIBÂNEO, 2004, p. 2).

- A motivação de alguns alunos para outras aprendizagens emergiu naturalmente. São indícios dessa motivação a procura por livros na biblioteca, pela pesquisa no laboratório de informática, pelas solicitações de fotocópias de textos complementares aos estudados em sala de aula.

- A determinação e o empenho da equipe gestora e pedagógica do colégio no desenvolvimento do programa, mesmo com pouca participação efetiva no início e com algum pessimismo, foi fundamental para efetivação satisfatória do Programa e para algumas mudanças nas práticas letivas.

- Os recursos financeiros viabilizaram a aquisição de materiais, equipamentos, alimentação e transporte o que tornou possível o desenvolvimento do Redesenho da Proposta Curricular, apesar de estrutura física do colégio ser precária. Para a viabilização de uma mudança no processo de ensino os recursos financeiros se tornaram indispensáveis.

Percebemos que nesse Redesenho da Proposta Curricular são necessárias mudanças de atitudes de professores e alunos e que isso não é uma tarefa fácil, mas é possível de acontecer. O que se oferece nessa proposta são algumas condições que viabilizam um trabalho voltado para a desconstrução e (re)construção de práticas de ensino que valorizem a elaboração de conhecimentos, contudo, o engajamento é individual do professor/do aluno.

Quando trabalhado na perspectiva de emancipação, tanto professores quanto alunos se sentem entusiasmados por desenvolverem atividades com compreensão. Observamos que os caminhos percorridos para a realização das tarefas não são e não precisam ser exatamente os mesmos.

Para finalizar, destacamos que é necessário tempo para os professores/alunos se familiarizarem com essa proposta e aos poucos algumas práticas estão sendo incorporadas nas aulas regulares, proporcionando mudanças no processo ensino e aprendizagem, tão necessária para um ensino de qualidade e para a formação de cidadãos, preparados para atuarem de forma crítica e participativa na comunidade/sociedade onde se encontram inseridos (THOMAZ, 2008).

Para que o jovem passe a agir como cidadão é necessário fazer com que a cidadania seja vivenciada no cotidiano escolar. De acordo com FLORIANI (2002, p.1) “A cidadania é uma condição política de direitos e obrigações frente ao coletivo e as pessoas com as quais se convive. É poder refletir sobre os atos que tenham consequências sociais, ter consciência dos seus resultados (...) sobre a sociedade...”, diante disso, acredita-se que as atividades desenvolvidas no Programa do Ensino Médio Inovador tenham contribuído para a formação cidadã dos alunos.

Referências bibliográficas

ALONSO, Myrtes. (org.) O trabalho docente - teoria e prática. São Paulo: Pioneira, 2003.

BRASIL, Ministério da Educação e Cultura. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira. Brasília: MEC. 1996.

BRASIL, Secretaria de Educação Básica. Portaria Ministerial número 971 de 09 de outubro de 2009. Brasília: MEC/SEB, 2009.

BRASIL, Secretaria de Educação Básica. Programa Ensino Médio Inovador: Documento Orientador. Brasília: MEC/SEB, 2016.

BRASIL, Secretaria de Educação Básica. Resolução Número 4 do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE de 25 de outubro de 2016. Brasília: MEC/SEB, 2016 regulamente o uso dos recursos financeiros para o Programa Ensino Médio Inovador.

FLORIANI, Dimas. Cidadania: Um conceito. http://www.dhnet.org.br/direitos/SOS/genero/cartilhagenero/conceito.html. - acesso em 22/09/2017.

LIBÂNEO, José Carlos. A didática e a aprendizagem do pensar e do aprender: a teoria histórico-cultural da atividade e a contribuição de Vasili Davydov. Rev. Bras. Educ. [online]. 2004, n.27, pp.5-24. ISSN 1413-2478.  http://dx.doi.org/10.1590/S1413-24782004000300002.

PARANÁ, Secretaria Estadual de Educação. Diretrizes Curriculares Estaduais da Educação Básica. Paraná. 2008.

THOMAZ, Lurdes. Os caminhos da cidadania. PDDE, Secretaria de Estado da Educação. 2008.


1. Professora Doutora em Educação Matemática do Colégio Estadual Professora Linda Salamuni Bacila. Email: martaschastai@gmail.com

2. Professora Pedagoga do Colégio Estadual Professora Linda Salamuni Bacila. Email: joanadarcferreira@gmail.com

3. Professora Pedagoga do Colégio Estadual Professora Linda Salamuni Bacila. Email: lurdesthomaz@seed.pr.gov.br


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