Espacios. Vol. 19 (1) 1998

Metodologia para avaliação ou auto-avaliação de incubadoras de empresas e de empresas incubadas (high-technology ou low-technology)

Methodology for the evaluation of self evaluation of the incubators of companies and the incubator companies

Luís Afonso Bermúdez 1 y Ednalva Fernandes C. de Morais 2


RESUMEN

En este artículo se presentan los resultados parciales de un estudio adelantado por la Asociación Nacional de Entidades Promotoras de Emprendimiento de Tecnologías de Avanzada (ANPROTEC). Se realiza un análisis situacional de las incubadoras de empresas y de empresas incubadas en Brasil, abordando sus aspectos de gerencia, de operaciones y los financieros; con el objetivo de señalar propuestas de sistematización de los programas de apoyo institucional existente. El producto final del estudio será un manual práctico de evaluación de incubadoras y de empresas incubadas actualmente en elaboración-. Este manual podrá ser útil tanto en las instituciones que gestionan programas de incubadoras y de empresas residentes, como para las instituciones de fomento. Dispondrán en el manual de información cuantitativa y cualitativa sobre el desarrollo de las incubadoras, a fin de tomar decisiones acerca de la continuidad, creación o ampliación de los programas y modalidades de apoyo existentes. En el presente articulo, se propone la metodología de evaluación - autoevaluación, basada en la aplicación del ciclo PDCA de calidad, con cuya aplicación será posible evaluar ex-ante, la viabilidad técnica, economía y la pertinencia de la implantación de nuevos programas de incubadoras. Asimismo, se muestran los resultados de la aplicación de esta metodología en dos incubadoras.

ABSTRACT

This article shows the partial results of an advanced study by the Asociación Nacional de Entidades Promotoras de Emprendimientos de Tecnologia de Avanzada (ANPROTEC). It was done a situational analysis of the incubators of companies and incubator companies in Brazil, boarding the aspects of operational management and financial, in order to point out the proposal of systematization of the existent support programs. It is offered a methodology of evaluation- autoevaluation supported “n application of the PDCA cycle of quality, of whom application it will be possible to evaluate, ex-ante, the technical, economical viability and the pertinence of the implantation of new incubator programs.

Contenido


Apresentação

A nossa atualidade está marcada por grandes crises econômicas e sociais, originadas por mudanças paradigmáticas em todos os campos bem como pelo surgimento de uma economia globalizada devido aos imensos e rápidos avanços tecnológicos ocorridos nas últimas três décadas. Em decorrência, cada vez mais a pressão por resultados e a escassez de recursos afeta a área de Ciência e Tecnologia; as empresas têm de gerenciar um ciclo de vida que notadamente fica cada vez mais curto 3; o eixo principal da competitividade deixou de ser matéria-prima e mão de obra baratas. No novo contexto vem sendo valorizada a gestão do processo de geração de soluções, em que a inovação se torna um componente tecnológico de elevada importancia, ou seja, hoje a principal vantagem competitiva de nações e empresas é a sua capacidade de produzir inovações tecnológicas a um rítmo acelerado, superando-se a si mesmo várias vezes.

A esse respeito Porter (1985) e Ramo (1985) apud Morcillo(1989) disseram que o rítimo de inovação não é determinado unicamente pelo pressuposto de P & D mas também pelas estruturas sócio-políticas, econômicas e culturais. Assim devem ser considerados: o estado da economia, os mercados públicos, a propriedade industrial, dentre outros fatores que representam verdadeiros gargalos para a geração de inovação.

Quando falamos então de inovação na micro e pequena empresa os problemas assumem dimensões de grande escala por que é latente a carência de recursos financeiros que as impedem de ter profissionais altamente qualificados para assumirem funções essenciais no processo de gestão da inovação, condição sine qua non para o êxito dos produtos a serem lançados no mercado, tais como: equipe de P&D, marketing, planejamento e finanças, dentre outras.

Apropriando-nos da teoria Schumpeteriana de desenvolvimento econômico (1947), temos que o empresário empreendedor é indispensável ao start-up do processo de inovação, depois o próprio capitalismo se encarrega de conduzí-lo. Isto é, o empresário inovador impulsiona o desenvolvimento econômico por meio da introdução de mudanças tecnológicas radicais, seja nas relações de produção, seja no incremento de novos produtos. Ocorre que não basta ser empreendedor. Há que existir um mecanismo dinâmico capaz de complementar as características individuais com componentes de caráter estrutural, tais como: capital de risco, oportunidades de negócio, suporte técnico e gerencial, alianças, dentre outros.

É por demais sabido que o desenvolvimento econômico, social e cultural atualmente não se desvinculam dos avanços científicos e tecnológicos, e que, o desenvolvimento regional terá que ser pensado sob esta ótica. Há portanto que se lançar mão da utilização de modelos institucionais inovativos capazes de diluir as incertezas e os riscos do processo de inovação. Surge então a articulação institucional universidade/empresa/governo como uma das alternativas, imprescindível aliás, no novo contexto de desenvolvimento econômico e social das nações, tendo em vista a importância estratégica do conhecimento no processo de competitividade global. O problema é que o conhecimento não está disponível a todos, principalmente para o pequeno empreendedor.

Nos países desenvolvidos um dos mecanismos mais eficazes e mais utilizados para promover a articulação é a criação de hybrid fora que na concepção de Gibbons (1994) tratam-se de instituições flexíveis ou "organizações híbridas", com o objetivo de promover e gerir o processo de cooperação institucional, visando o desenvolvimento científico e tecnológico. Em última análise os hybrid fora se assemelham ao conceito, estrutura, objetivo e forma organizacional dos programas de Incubadoras Empresariais, Pólos e Parques Tecnológicos.

Smillor (1987) apud Furtado (1995), define a incubadora como "uma instalação planejada para apoiar o desenvolvimento de novas empresas. Ela provê uma variedade de serviços de apoio ao start-up de empresas, com uma clara preferência para aquelas de alta tecnologia e indústrias manufatureiras leves. A incubadora procura unir efetivamente talento, tecnologia, capital e conhecimento para alavancar o talento empreendedor, acelerar a comercialização de tecnologia e encorajar o desenvolvimento de novas empresas".

Nota-se que o principal objetivo da incubadora é a gestão das categorias que compõem a inovação tecnológica que são: o empreendedor, o capital, a tecnologia e o conhecimento. O modelo de gestão dessas categorias, adotado pelas incubadoras brasileiras é o processo de cooperação institucional, em que há relações "ganha/ganha", baseadas na troca e na complementariedade de recursos, talentos e conhecimentos, com o objetivo de contribuir com o processo de desenvolvimento econômico e social de regiões e municípios. E tem sido esta a principal motivação para as diversas instituições brasileiras apoiarem as iniciativas de implantação de incubadoras nas diversas regiões do país.

Segundo dados da ANPROTEC-Associação Nacional de Entidades Promotora de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas, existem no Brasil, 34 incubadoras de empresas em atividades nas diversas regiões. Esse movimento vem crescendo na última década, em rítimo acelerado semelhante ao fenômeno do Silicon Valley nos EUA. Nos últimos três anos foram criadas 30 novas incubadoras no Brasil. Em razão disso há uma preocupação consensual entre as instituições promotoras e financiadoras de incubadoras e de empresas incubadas, com o planejamento de ações que visem ao estabelecimento de metodologias de acompanhamento e avaliação dos empreendimentos existentes e daqueles em fase de implantação. Dentre os resultados esperados, está a melhoria dos programas existentes. Além disso, será possível a identificação de pontos fortes e fracos de cada incubadora, com o objetivo de reduzir as dificuldades inerentes ao processo de incubação, e, principalmente, do processo de cooperação institucional.

Experiências de países onde o processo de incubação já atingiu fase de maturação, evidenciam que a sua auto-sustentação não ocorre em período inferior a 10 anos. É fundamental o investimento de recursos privados mas faz-se necessária a existência de políticas públicas sistematizadas, que permitam o ingresso contínuo de investimentos públicos, especialmente para as pequenas e médias empresas, na forma de incentivos fiscais ou linhas de financiamento, que sejam suportadas pelos pequenos empreendimentos. No caso brasileiro, a intermitência com que os aportes são concretamente efetivados prejudicam o êxito desses empreendimentos.

Com o uso da metodologia de avaliação ou auto-avaliação, espera-se realizar uma análise situacional dos empreendimentos existentes, abordando seus aspectos gerenciais, operacionais e financeiros com o objetivo de sinalizar propostas de sistematização dos programas de apoio institucional existentes. Na perspectiva das incubadoras e das empresas incubadas, elas terão à mão, uma importante ferramenta gerencial e informações técnicas e financeiras que facilitarão o processo de tomada de decisões futuras sobre continuidade ou expansão. As incubadoras poderão expandir-se para parques tecnológicos, por exemplo.

Foi utilizado o conceito da UNESCO (1984) que entende a avaliação como "um processo que se destina a determinar sistemática e objetivamente a pertinência, eficiência, eficácia e impacto de todas as atividades à luz de seus objetivos. Trata-se de um processo organizacional para melhorar as atividades que estão em andamento e auxiliar a administração no planejamento, programação e tomada de decisões futuras". Ademais, a primeira avaliação a ser realizada nas incubadoras brasileiras, terá o propósito de comprovar a extensão e o grau de maturidade do movimento de criação de incubadoras e de empresas de base tecnológica nas diversas regiões do país, de forma tal que sirva de base ou guia para uma tomada de decisão racional entre cursos de ação institucional, ou para solucionar problemas e promover o conhecimento e a compreensão dos fatores associados ao êxito ou fracasso de seus resultados.

Desta forma o produto final desta pesquisa, será um manual prático de avaliação de incubadoras e empresas incubadas (em elaboração), que poderá ser útil tanto às instituições que gerenciam programas de incubadoras e suas empresas residentes, quanto às instituições de fomento que disporão de informações quantitativas e qualitativas sobre o movimento de incubadoras e incubadas que lhes permitam decidir sobre a continuidade, criação ou ampliação dos programas e das formas de apoio existentes.

Ademais, será possível a utilização da metodologia para avaliar ex-ante, a viabilidade técnica, econômica e a pertinência de implantação de novos programas de incubadoras, considerando que a metodologia está fortemente embasada na prática do ciclo PDCA de qualidade, isto é, nas atividades de Planejamento 4, Desenvolvimento, Controle e Avaliação, aspectos esses relevantes para quem deseja iniciar um empreendimento. Aliás, a fase de implantação de incubadoras merece algumas considerações.

Existe uma tendência na América Latina de copiar modelos americanos que nem sempre se adaptam à determinadas realidades. No caso específico das incubadoras, o modelo americano foi copiado em sua filosofia e metodologia por muitas incubadoras existentes no mundo. Provavelmente pelo fato de terem sido pioneiros nessa iniciativa e de se superarem todo o tempo. No caso do Brasil, está havendo não uma simples transposição do modelo, mas uma adaptação dos objetivos e processos organizacionais (seleção de empreendimentos, formalização da relação incubadora-empresa, regimento, acompanhamento, etc.), segundo as características das instituições e da vocação local, a existência de condições sócio-políticas, econômicas e culturais favoráveis para implantação da incubadora, dentre outros fatores. Uma ilustração desse fato é a diversidade de modelos de incubadoras encontradas nas regiões brasileiras; Outra são alguns projetos que estão em processo de implantação há pelo menos 4 anos e ainda não foram implementados pelo fato de que as condições sócio-institucionais da universidade e governo local não serem tão favoráveis a este tipo de empreendimento.

Hoje uma avaliação que se pode fazer sobre as incubadoras brasileiras em funcionamento e daquelas em implantação é que existe uma tendência de padronização dos principais processos organizacionais e de profissionalização no gerenciamento das incubadoras, ao contrário das primeiras incubadoras que para terem a aceitação, principalmente da comunidade acadêmica, tiveram que apresentar resultados efetivos, isto é, terem empesas bem sucedidas para "convencer" de que a incubadora era, desde então, um dos processos viáveis de transferência de tecnologia/conhecimento da universidade para a empresa. Os gestores dos programas não tinham oportunidades para participar de cursos de capacitação. Ela era realizada pelo processo learning by doing ou seja, aprendendo fazendo, com tentativas de erros e acertos. Atualmente a ANPROTEC realiza pelo menos 3 vezes ao ano, cursos de capacitação de gerentes de incubadoras, abordando os tópicos mais relevantes como: plano de negócios, gerenciamento, marketing e acompanhamento e avaliação. A presença de gestores e funcionários de incubadoras e de técnicos de órgãos governamentais e não governamentais como SEBRAE 5, têm aumentado significativamente. Com isso a troca de experiências vem contribuindo para a profissionalização e para a sedimentação das incubadoras brasileiras. A cooperação institucional está cada vez mais tomando parte do cotidiano institucional.

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